Rio de Janeiro - Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).
Ligado à Secretaria de Comunicação - SECOM - o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, sob o comando do secretário especial Fabio Wajngarten.
Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.
O governo de Jair Bolsonaro já mudou de ideia, desmentiu ou recuou de decisões que estavam tomadas ou anunciadas, tantas vezes que o setor de comunicação do governo está em pânico.
Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.
Bolsonaro acredita que foi eleito “dono” do Brasil. Não foi.
Quando o secretário Fabio Wajngarten entrou na sala da presidência, no Palácio do Planalto, o presidente estava gritando ao telefone.
- Não vou mostrar nada a ninguém, talkey? Isso é falta de caráter dessa imprensa marronzista, talkey? - berrou.
- O que houve presidente? Estão querendo que o senhor mostre a facada?
- Pior. Essa imprensa esquerdista agora está tentando denegrir a imagem do meu governo só porque eu gastei a mixaria de R$ 3,760 milhões com o meu cartão corporativo.
- Mas, presidente, esse valor representa um aumento de 98% em relação à média dos últimos cinco anos no mesmo período. São quatro vezes mais!!
- Essa imprensa marronzista esquece que eu gastei R$ 739.598,00 mil com os três aviões que foram a China buscar os brasileiros que estavam em Wuhan. Retirando essas despesas extraordinárias, meus gastos seguem abaixo da média dos anos anteriores.
- Desculpe, presidente, mas mesmo abatendo o valor com os voos para a China, ainda temos um gasto de mais de R$ 3 milhões que representam uma alta de 59% em relação à média do que gastaram Dilma Rousseff e Michel Temer, seus antecessores no cargo.
- E daí? O Lula comprava cachaça. Eu comprei uísque e vinhos finos para renovar a adega do Palácio do Alvorada - disse Bolsonaro, tentando, mais uma vez, justificar a elevação de gastos com o cartão corporativo.
- É que o senhor elegeu-se presidente à sombra dos discursos da austeridade, da ética e da moralidade. Esses seus ataques sistemáticos a imprensa fica parecendo desespero de quem tem algo a esconder.
- Eu não tenho nada a esconder , talkey? - gritou. - Tão me acusando de esconder a facada, de esconder o Queiroz, de esconder o assassino da Marielle, de esconder o resultado do teste para o coronavírus... Daqui a pouco vão me acusar de esconder aquele astronauta que eu nomeei ministro-não-sei-do-quê.
- Por falar nisso, cadê ele, presidente? Ele anda mais sumido que a Regina Duarte e o Queiroz - disse o secretário, escondendo o riso por trás da máscara.
- Eu não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe, talkey?
- Quer que a secretaria de comunicação solte uma nota desmentindo que o senhor tenha gasto todo esse dinheiro?
- Não. Melhor eu ir lá no “cercadinho” explicar isso pro povo. Vou criticar essa ideia da imprensa de que eu devo mostrar o extrato do cartão. Você acha que eles vão me apoiar?
- Pode ser , mas lembre-se que, antes de ser eleito, o senhor foi crítico ferrenho dos gastos com cartões corporativos e, principalmente, do sigilo dos extratos. O senhor chegou a desafiar o ex presidente Lula a “abrir os gastos” com o cartão.
- Eu estava preocupado que o Lula quebrasse o país usando o cartão pra tomar cachaça, talkey! Vou lá no “cercadinho” - disse o presidente calçando os chinelos.
- Outra coisa, presidente...Pede para seus apoiadores evitarem fazer aquela saudação nazista, tá pegando mal. Até o Olavo de Carvalho já criticou, aconselhou o secretário.
- Talkey!
- Outra coisa, vá de máscara, assim, caso o senhor ria, enquanto tenta justificar seus gastos, eles não vão perceber.
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