Coluna

O BOLSONARO BOM E O MAU

Arte - Nani

Rio de Janeiro - Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).

Ligado à Secretaria de Comunicação - SECOM - o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, sob o comando do secretário especial Fabio Wajngarten.

Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.

O governo de Jair Bolsonaro já mudou de ideia, desmentiu ou recuou de decisões que estavam tomadas ou anunciadas, tantas vezes que o setor de comunicação do governo está em pânico.

Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.

Sem ter nada melhor pra fazer, Bolsonaro, depois de um cochilo no Palácio da Alvorada, chamou o secretário de comunicação Fabio Wajngarten e avisou que vai fazer outro pronunciamento à Nação.

O presidente tem aparecido tanto na televisão que as pessoas já estão confundindo os pronunciamentos do Bolsonaro com uma série de comédia da Netflix. Tem todo dia.

Não é demais prever que, num futuro próximo, anunciem, enquanto o presidente estiver falando uma marca de sabão em pó ou uma ração para cachorros.

- Fabinho, chame aqueles comunistas dos jornais, das rádio e das TVs que eu vou fazer um pronunciamento à Nação, talkey?

O Secretário, ainda bocejando, indagou:

- Mas presidente, o senhor não fez um pronunciamento ontem?

- Eu sei, talkey! Mas o Zero Um, o Zero Dois, o Zero três e o Olavo de Carvalho não gostaram muito. Disseram que eu estava muito bonzinho. Eu “disconcordo”. Mas, pensando bem, eu dei uma fraquejada.

- A imprensa elogiou o seu discurso. Até o Dória gostou.

- Viu? O governador de São Paulo e a  imprensa não entendem nada de epidemia. Se eles gostaram é porque não foi bom. 

- Vou mandar todo mundo trabalhar. Acabou a moleza!

- Mas, presidente, ontem o senhor disse que era para a população ficar em casa.

- Desmente! Diz que foi o Carioca! Veja bem, até o presidente da Organização Mundial de Saúde... Como chama? O Athos?... Porthos?... Aramis? 

- Esses eram os Três Mosqueteiros, presidente. O presidente da OMS é o Adhanom. Tedros Adhanom.

- Ou isso! Até o Adhanom, meu amigo, é contra essa tal de Quarentena. No meu tempo de atleta, quarentena era uma mulher com quarenta anos.

- É quarentona, presidente.

- Ou isso!

- Desculpa, presidente, mas o presidente da OMS negou que tenha dito isso. 

- Não entendo esse pessoal, fala uma coisa, depois fala outra. Assim fica difícil, talkey?

- Presidente, se o senhor mandar a população ficar em casa e no dia seguinte mandar a população se expor ao vírus, nas ruas, as pessoas não vão saber em quem acreditar: se no presidente bom ou no mau. 

- Entrega esse vídeo pro Zero dois e manda ele postar nas minhas redes sociais. Quero mostrar para a população que já está faltando comida para o povo, na Ceasa de Belo Horizonte - disse.

- Presidente, esse vídeo é uma fake news. Não há desabastecimento em Minas nem em lugar nenhum do país.

- Você está do meu lado, ou do lado dos comunistas? A reunião acabou.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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