Coluna

EU, JAGUAR E NOSSOS BOTECOS

Rio de Janeiro - Outro dia, sem motivo, lembrei de um bar que eu tinha no Lote XV, em Caxias.

Fechou quando Collor e Zélia Cardoso de Melo  confiscaram todo o dinheiro da população. Inclusive o meu.

O bar ficava próximo ao Cabaré dos Bandidos, um boteco que Jaguar frequentou quando morou em Caxias. Que também não existe mais. 

O velho cartunista, que mantinha n´ "O Paquim" uma coluna instável - como conversa de bêbado - com uma sigla misteriosa: B.I.P (Busca Insaciável do Prazer), onde dava dicas de bons lugares para comer e beber bem no Rio, frequentava o pé-sujo onde tomava uma pinga "especial", guardada embaixo do balcão, pela dona do boteco, e comia carne de cobra, uma das famosas iguarias do lugar.

Para um boêmio - espécie também em extinção - botecos como o Cabaré dos Bandidos, fazem uma tremenda falta.

Na minha santa ignorância,  pensava que o nome do Bip- Bip, famoso boteco do saudoso Alfredinho, em Copacabana - felizmente, ainda de portas abertas - fosse uma homenagem ao Jaguar - frequentador do boteco - e sua coluna no "O Pasquim". 

Só um pouco antes de sua morte, Alfredinho me contou que o nome era uma homenagem ao Sputnik, satélite russo e seu indefectível sinal sonoro: bip, bip, bip...

Outra ignorância minha: não sabia que Jaguar tinha morado na Baixada Fluminense. 

Jaguar - por J.Bosco

Um dia, bebendo com o cantor, poeta e compositor Marcus Lucenna, num bar em São Cristóvão, ouvi a história: Jaguar era casado com uma das mulheres mais bonitas e inteligentes do Brasil, a poeta, escritora e tradutora Olga Savary. Um belo dia, apaixonou- se por Mara, uma negra linda, parecida com a Rainha de Sabá, e se mudou com ela para o Lote XV.

Jaguar, Mara, Lucenna, Ferdy Carneiro e o poeta Azulão, todos boêmios de carteirinha, tomavam porres homéricos pelos botecos da Baixada Fluminense.

Em uma das muitas colunas que escreveu, durante mais de 30 anos em que trabalhou no jornal "O Dia", o cartunista falou dos bares que frequentou e que já não existem mais. 

Listou, na crônica "Bares de Saudosa Memória", mais de 130 botecos em que já bebeu e que - infelizmente - já fecharam as portas. 

Como também já bebi em muitos deles, vou reproduzir aqui a lista, só para recordar, com tristeza. Porque, como diz o Jaguar, "Perder um bar de estimação é quase igual perder um amigo."

Aí vai: Pardelas, Veloso Bolero, Balalaika, Bar Bem, Zorba o Grego, Flag, Rond Point, 706, Bar Anglais, Furna da Onça, Nick Bar, Jirau, Sucata, Alpino, Viking, Bar do Zica, Praia Bar Café Indígena, Farolito, Dominó, Zum Zum, Cangaceiro, Tabris, Oásis do Beduíno, L´Étoile, Arpege, Cantinho do Leme, Abadia, Janine, Cabeça Chata, Drink, Fred´s, Black Horse, Merpuga, Texas, Sereia do Leme, Café Nice, Carreta, Recreio, Zicartola, Taberna do Barão, Varanda, Botton´s Club, Bottle´s, Faroeste (ou igrejinha), Morte Lenta (ou Mau Cheiro), Unhão, Angú do Gomes, Panelão, Voilá, Bon Marchê, Café Pernambuco, Sacha´s, Meu Cantinho, Kilt Bar, Pink Panather, Zoom, Túnel da Lapa, Escorrega, Salão Azul, Chave de Ouro, Hawaí, 36, B. B. Bem, Plaf, Juca Pato, Scotch, Helsingor, Marrocos, Primor,  Novo México, Le Relais, Bozó, Taberna do Mar, Harry's Bar, Manolo, Bar do Chico, Alegria do Galo, Bar do Kalil, Well's Fargo, Sweet Home, Hong Kong, Silvestre, Pelicano, Porto Seguro, Katakombe, Un Deux, Trois, Baco´s, Dirty Dick, Cristal, Hanseática, Antonio´s, Regine´s, Tim, Tim por Tim Tim, Soares, Romano, Don Peppone, The Fox, Ásia, Pam-Pam, La Bohème, Baccarat, Tany´s, Kilt Club, Blue Angel, Alfredão, Sitão, Hi-Fi, Galeria Cruzeiro, Le Bateau, Fado, Calypso, Boite Plaza, Azteca, Leiteria Bols, Paraíso, Corridinho, Topinho, Chato, Timpanas, Bar dos Caixotes, Bar Memória, Uisqueria Gouvêa, Bar São Jorge, Special-Concorde, Allis Internacional, Luna...

Mais um: bebi, também, no Chico e Alaíde, boteco do Leblon que também fechou, recentemente.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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