Coluna

Delírios do mito pés de barro

- Athaliba, ainda atordoada, impactada com a força voraz do COVID-19, essa nova versão do coronavírus que infecta e mata milhares de pessoas no planeta, enfrento o distanciamento social refletindo sobre acontecimentos relâmpagos que se propagam todo instante. Das reflexões obtive algumas definições. Talvez, a mais significativa delas é o fato do mito pés de barro eleito presidente da República do Brasil demonstrar o quanto é inepto, incompetente, desqualificado, incapaz para exercer o cargo. Alguns apoiadores dele o abandonam. O quê ocê acha?

- Sabe, Marineth, infelizmente ele é a maior vergonha de nós, brasileiros, perante o mundo. Foi indigna a ameaça em demitir o ministro da Saúde, influenciado por seu guru ideológico Olavo de Carvalho, que postou mensagem no Facebook pedindo “fora, ministro Punhetta”. O ensaísta vive nos EUA e disse que “o ministro é o exemplo típico do que acontece quando um governo escolhe seus altos funcionários por puros critérios técnicos, sem levar em conta a sua fidelidade ideológica”. A influência do guru no governo está representada pelas indicações dos ministros Ernesto Araújo (Ralações Exteriores) e Abraham Weintraub (Educação). A revista britânica The Economist publicou charge enxovalhando o mito pés de barro por boicotar orientações do ministro da Saúde. Vexame global. Indignação nacional.

Revista britânica ridicularizou o mito pés de barro por boicotar e negligenciar orientações do ministro da Saúde, ofendido por seu guru ideológico que o chamou de ministro Punhetta em postagem . (Reprodução: The Economist)

- Pois é, Athaliba. O mito pés de barro, em um dos delírios contumaz, disse em entrevista num programa de Televisão que “o vírus é igual a uma chuva que molha, mas não mata ninguém afogado”. Isso motivou a tal charge. Também o chargista Genin Guerra, no Vila de Utopia, captou o disparate no cartum “ducha corona – um banho de misantropia num Brasil cheio de gente”.

- Marineth, o Genin Guerra mostrou o mito pés de barro completamente nu se ensaboando na chuva do coronavírus, sem a “coroa de rei” que lhe atribui os seus seguidores extremistas. 

- Athaliba, seguindo um dos filhos dele, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) que provocou incidente diplomático com a China, o ministro Abraham Weintraub, escreveu texto racista sobre os chineses no Twitter. Ele usou indevidamente o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, na postagem, com capa de um gibi cuja história se passava na China.

- Marineth, a Embaixada da China no Brasil acusou o ministro da Educação de manifestar “declarações difamatórias, tentando estigmatizar a China ao associar a origem do COVID-19 ao país”.

- Athaliba, aí o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, entrou no campo diplomático para estancar a crise. Ele, em contato telefônico com o embaixador chinês, Yang Wanming, acertou a colaboração bilateral, especialmente entre os Ministérios da Saúde da China e do Brasil para combater o coronavírus. No contexto atual, a luta é global contra o COVID-19.

- Marineth, apesar disso a “briga de foice” não foi abrandada nas redes sociais entre os admiradores extremistas do mito pés de barro e seus adversários políticos, criada pelos atritos contra a China via Eduardo Bolsonaro e Abraham Weintraub.

- Athaliba, às vezes tento me desassombrar de espectros políticos fantasmagóricos como Jânio e Collor (ex-presidentes), Pezão, Garotinho, Cabral e Rosinha (ex-governadores do Rio de Janeiro), que provocam insônia. Mas, como apagá-los da memória? Desgraçadamente eles estão no nosso currículo da trajetória da nossa existência, inseridos na história brasileira. E somando-se a isso, agora, nos defrontamos com o mito pés de barro. Meus sonhos, que antes vislumbravam a pátria amada evoluída, com drástica redução de desníveis econômicos e sociais, se transformam em frequentes pesadelos. Tenho pedido aos orixás, elementos da natureza, que nos protejam.

- Axé, Marineth! Infelizmente a mediocridade tem imperado na política brasileira. Numa palestra na Escola Superior de Guerra (ESG), na década de 1990, com a professora Therezinha de Castro, eu a indaguei ao afirmar que o Brasil poderia ser uma potência capaz de formar uma força bipolar no mundo, a exemplo dos Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Afinal, o Brasil se ressente de projetos políticos, apesar do favorecimento das grandes riquezas naturais e condições climáticas e menores índices de desastres ambientais; registrando economia escravocrata por mais de três séculos. Atenciosa com meu questionamento na brilhante palestra sobre geopolítica, a conferencista disse que “esse obstáculo será superado e o Brasil terá a sua grandeza reconhecida no mundo”. Portanto, amiga, após esses “ásperos tempos”, da “agonia da noite”, enxergaremos a “luz no fim do túnel”. E quem sobreviver vera!!!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

Comentários


  • 10-04-2020 08:23:21 Rogério Marques

    Muito boas as Crônicas do Athaliba. Retratam de maneira objetiva o Brasil em que vivemos, em um texto leve, gostoso de ler. Parabéns ao autor. Rogério MarquesJ