Coluna

BOLSONARO E O CORONAVÍRUS

Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).

Ligado à Secretaria de Comunicação - SECOM - o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, sob o comando do secretário especial Fabio Wajngarten.

Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.

O governo de Jair Bolsonaro já mudou de ideia ou recuou de decisões que estavam tomadas ou anunciadas, tantas vezes que o setor de comunicação do governo está em pânico.

Os recuos e desmentidos, quase diários, estão atrapalhando os trabalhos do Departamento de Recuos e Desmentidos.

Os trabalhos estão se acumulando e os poucos funcionários não tem dado conta da demanda.

Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.

ARTE - NANI

Fabio Wajngarten esta em sua mesa, sério, com sua máscara de proteção e escrevendo, enquanto passa álcool-gel nas mãos. 

Redige um texto para a imprensa para tentar explicar como sua empresa, a FW Comunicação e Marketing presta consultoria e recebe dinheiro de TVs e empresas de publicidade contratadas pela secretaria comandada por ele, quando o telefone tocou.

- Fabinho, venha à minha sala, taokey? - convocou Jair Bolsonaro.

- Pois não, presidente - disse o secretário, logo que entrou no gabinete do presidente.

- Fabinho, eu sei que você anda muito ocupado tentando explicar porque que a TV do bispo tem enfiado tanto dinheiro na sua empresa de propaganda, mas eu preciso que a secretaria publique uns desmentido, taokey? 

- Outro!!??

- Quero que a secretaria de comunicação negue que eu tenha apoiado o protesto em favor do meu governo e contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

- Mas, presidente, a convocação está nas redes sociais bolsonaristas.

- Quem postou?

- A postagem é apócrifa.

- Então pronto, manda prender essa tal de “Apócrifa”. Deve ser aquela senhora do “Estadão”.

- Aquela é a Vera Magalhães.

- Tanto faz. Quero que desminta, também, que eu tenha chamado a crise do coronavírus de “histeria”, e que tenha feito pouco caso da pandemia saíndo para apertar a mão dos eleitores na porta do Palácio da Alvorada.

- Mas presidente, está em todos os jornais. E as TVs filmaram o senhor apertando a mão das pessoas e até fazendo selfie com elas.

- Diz que foi o Carioca, aquele humorista que eu comprei lá no Rio.

- Mas, presidente, e se ele desmentir?

- Eu desminto ele. Afinal, você está aqui praquê?? Outra coisa, quero que você organize uma festinha para comemorar o meu aniversário. Quero dois dias de festa, porque é o meu aniversário e o da Michelle. Chama todo mundo. Até o Queiroz! Vê se ele aparece.

- Desculpa, presidente, mas o senhor não tem medo de espalhar o Covid-19 entre os seus convidados? 

- Que 19? Eu vou convidar uns 300!

- O vírus, presidente...

- Que vírus, que nada! Isso é histeria do pessoal do PT!

- Mas, presidente, eu e mais 14 pessoas da sua comitiva que foi aos EUA, estamos com coronavírus…

- Alguém morreu? 

- Não, mas…

- Não tô dizendo? Isso é invenção de comunista. Vá procurar o que fazer!

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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