Coluna

O SÁBADO

Foto: Alicia Steels

“Hoje é sábado, amanhã é domingo”. Assim como Vinícius, o sábado, também para mim, sempre teve algo de mágico. Para ele, que batizou o poema como “Dia de criação”, onde todos os males e benefícios foram criados, o sábado ante todos os dias da semana sempre representou algo diferente. Ele está depois da sexta-feira à noite, horário propício para o primeiro encontro com a namorada recente, e depois o sábado, quando prolongamento, ou o meio do fim de semana acontece. O sábado sempre foi o conferente do encontro do dia anterior: vista a namorada na mágica da noite, a claridade do sábado servia para ver, novamente, quem era ela. De preferência na praia, desde que houvesse o sol, ou então a tarde inteira para poder curtir o namoro.

Depois dele, o domingo, o final do final de semana, dia do jogo, dia de visitar a família, coisas de almoços e etc. Mas, o sábado não. É diferente.

Também para mim, as manhãs de sábado, por exemplo, representavam uma ida às compras, o comércio ainda aberto até o meio-dia, dando tempo para comprar uma roupa nova, um calçado mais elegante para o casamento do amigo à noite, ou então a ida ao cinema um pouco mais cedo para aproveitar uma esticada em um barzinho, repetindo a receita da sexta-feira, com o direito ao justo descanso no domingo. Afinal, porque hoje é sábado, amanhã é domingo. Como um Romeu e Julieta, queijo e goiabada, o sábado não seria sábado se não existisse o domingo, verdadeiro isolante ante a segunda-feira que se aproxima, perigosamente.

No mais das vezes, eu escolhia o sábado para ir às compras, para verificar a última moda a ser comprada, como eu falei. Nem sempre para o encontro da nova namorada, mas também para um programa especial, depois uma ida até um restaurante e comer qualquer coisa que desse ao sábado aquele ar de faz de conta, fantasia, como se a vida pudesse sempre ser uma véspera de domingo: e como isso continua sendo bom!

Alguns sempre dizem que a vida deveria ser uma eterna sexta-feira à noite. Mas, para mim, ela poderia ser esses sábados. Até o nome soa diferente. Dia de preguiça preguiçosa, o próprio termo sabático significa repouso, tempo que se tira para refletir sobre alguma coisa, o afastamento do trabalho. Dia de não fazer nada, ou dia para tentar fazer tudo que não se pôde fazer durante a semana.

O sábado, para mim, sempre foi bem-vindo.

E quando ele é ensolarado então nem se fala. Uma outra combinação, mais do que nos outros dias, é o sol e o sábado. Chuva? Talvez para as segundas-feiras. Um choro porque o sábado foi-se embora.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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