Rio de Janeiro - Tiro duas colunas de folga para fugir da folia momesca e descansar, numa linda praia, em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio de Janeiro.
Um lugar incomum para quem curte a folia e os agitos do carnaval.
Por falar em “incomum”, lembrei de um livrinho que ganhei do Jaguar quando nos encontramos numa dessas redações da vida, o título : “Lugares In-comuns”.
Conheci Jaguar através do jornal “Última Hora”, do jornalista Samuel Wainer.
Jaguar trabalhava no Banco do Brasil, mas já desenhava seus “bonequinhos” - como ele se refere ao seus personagens. Um dia, criou coragem e foi mostrar seus desenhos para o jornalista Leon Eliachar.
Leon tinha uma coluna de muito sucesso no “Última Hora”, chamada “Penúltima Hora”. Leon gostou e publicou o trabalho daquele rapaz de topete e 21 anos. Foi a primeira vez que um desenho do Jaguar foi publicado.
Nessa época, Jaguar ainda assinava Sérgio Jaguaribe. Foi o cartunista Borjalo, mais tarde, na revista “Manchete” que mudou seu nome artístico.
Jaguar mostrou vários desenhos ao Borjalo e ele falou: “Sérgio Jaguaribe? Nem pensar! Sérgio Jaguaribe não é nome de humorista! Vai ser Jaguar!”, decretou ele.
Tempos depois, nos encontramos na redação d´O Pasquim, na Rua da Carioca, acho, onde ganhei o livrinho. Era um livro escrito em co-autoria com o Ivan Lessa.
Jaguar, no traço e Ivan, no texto.
“Lugares in-comuns” é um apanhado de tiras irreverentes, publicadas semanalmente, que explorava de forma irônica e debochada os chavões, os ditos, as frases feitas e tiradas filosóficas populares, cheias de lugares comuns.
Eram frases criadas pelo Ivan Lessa ou tiradas dos ditos populares e para-choques de caminhões. Frases tão repetidas que eram consideradas como “lugar-comum”.
No fim dos anos 70, as tirinhas foram publicadas em livro pela Codecri, a editora do “O Pasquim”.
Na capa, aparece um cartum do Jaguar com uma dessas frases feitas.
No desenho, uma mulher acompanhada de vários homens, alguns baixos e outros altos, nenhum de estatura mediana. Um homem se dirige a ela e diz: “Você é uma mulher cheia de altos e baixos”.
Outra: O cartum mostra uma mulher sendo assediada por vários homens, todos com a mesma cara, e ela sai dizendo: “Vocês homens são todos iguais”.
Em outra, aparecem várias pessoas com réguas e fitas métricas na mão medindo o tamanho de vários pares de meia. Um homem reclamando diz para elas: “Basta de meias medidas!”.
O prefácio do livro, bastante incomum, é do escritor Ignácio de Loyola Brandão: “Palavras comuns não expressam lugares in-comuns. Por isso devo dizer que estes lugares insólitos são pindóricos, hiperbólicos, arquétipos, zoilis, amilgantes, mofadores, especiosos, jucundos, libantes, voluptuários, alambicados, perscrutadores, airosos, donosos e completamente maganos”.
Hoje, o livrinho só é encontrado em sebos.
Um lugar bem comum.
Bom carnaval, leitor!!
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