PORTO ALEGRE - Porto Alegre, como toda cidade grande, tem lugares feios, sujos e sombrios. Mas a cidade tem também o seu charme cosmopolita e o encanto do seu passado histórico.
Mas o que encanta Porto Alegre são os porto-alegrenses. Em especial os artistas. Conhecemos vários. A Sheila ficou encantada com a arte e a cultura da cidade.
Eu e a “guria” nos encantamos com o Hotel Magestic, lugar onde morou o poeta Mário Quintana; O moderno Centro Cultural Santander e sua caixa forte transformada em um aconchegante Café; O gasômetro e sua antiga Usina; A galeria Hipotética e seus talentosos artistas; O majestoso Rio Guaíba e seus grandes barcos coloridos; O Mercado Municipal, suas antiguidades e o restaurante chinês; O Museu do Internacional; O estádio colorado e o Gigantinho; A noite gaúcha e o show da Churrascaria Galpão Crioulo ; o Tutty Giorni, o bar dos cartunistas e a arquitetura do Viaduto Otávio Rocha, no centro histórico.
Mas, na verdade, o que Porto Alegre produz de melhor - além do chimarrão - dizem os gaúchos, são seus artistas.
Concordamos.
Termos conhecido o Nani - que além de dono do “Tutty Giorni”, santuário do humor gaúcho - também é cartunista; o Rafael Corrêa e o Fábio Zimbres nos deu a idéia da qualidade do humor dos pampas.
A história e o talento do cartunista Rafael Corrêa, em especial, são fantásticas.
Saímos de Porto Alegre com o livro do Rafael onde ele conta parte da sua saga. Da vida promissora, criativa e produtiva até a descoberta da Esclerose Múltipla Degenerativa.
Rafael nasceu em Rosário do Sul, aos 17 anos veio para Porto Alegre onde deu continuidade a incipiente carreira de cartunista, iniciada aos 14 anos, na cidade natal.
Na capital, Rafael conheceu e foi influenciado por grandes nomes do cartum gaúcho, como Edgar Vasques, Moa e Santiago, cartunistas que conheceu nos encontros da “Grafar” Grafistas Associados do Rio Grande do Sul.
Aos 17 anos produziu o fanzine “O Bodoque”, com colegas da Faculdade de Publicidade e Propaganda. De lá para cá, passou por diversas publicações influentes - incluindo a “Folha de São Paulo” - e recebeu 43 prêmios, entre eles o “Aydin Dogan”, reconhecimento internacional na Turquia, alcançado duas vezes - em 2013 e 2014.
Influenciado pelo cartunista francês Jean-Jacques Sempé, seus temas são a crítica social, de comportamento e autobiográficos. Não é um humor só para o riso, serve também para a reflexão e auto-análise. “Gosto de pegar no contrapé do leitor. Fazê-lo dar risada e depois se dar conta de que ele está rindo dele mesmo, dos absurdos da vida”, diz.
Mas é com certa despretensão que Rafael comenta e encara seu trabalho. Certa resignação, também. Diagnosticado com a doença que afeta a coordenação motora, em 2010, seguiu desenhando mesmo sentindo cansaço e com dificuldade com a mão esquerda, com a qual tinha maior habilidade.
O cartunista trocou de mão e desenhando com a mão direita produziu o seu mais recente livro, a coletânea de cartuns “Até Aqui Tudo Bem”
Este é o quinto livro do autor das tirinhas de Artur, o arteiro com o qual tem dois livros: “Direto pro SOE!” (2006) e “Piolhos Invaders” (2007); além de “Criatura” (2014) e “Sapatiras” (2015).
E Rafael não parou por aí, publicou recentemente a revista “ReTruco” com as colaborações de Grazi Fonseca, Maco, Ruben Castilho, Moa e Santiago e toca o projeto “Memórias de Um Esclerosado”, no qual produz HQs autobiográficas que contam o seu dia-a-dia convivendo com a esclerose múltipla.
Rafael Corrêa continua cheios de idéias e planos.
Até aqui, tudo bem.
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