Coluna

O fútil troféu do Faustão

- Marineth, o Troféu do Faustão, com a marca da TV Globo e badalado pelo apresentador Fausto Silva, é uma celebração ridícula. Pois a premiação esculacha, desmoraliza e ridiculariza o meio artístico brasileiro em geral. Essa é a opinião da Estelita, intérprete de Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Ela garante que boa parte dos telespectadores comunga da mesma opinião e tacha o “animador” com sinônimo de bostão, utilizando do recurso da linguagem que ele emprega costumeiramente no programa. E que tem que ter estômago para engolir o chatão aos domingos.

- Athaliba, cê ainda não se deu conta do quanto o programa “Domingão do Faustão” presta maligno desserviço à vida cultural do Brasil? Veja bem, no caso da famigerada premiação para os melhores artistas do ano, só tem gente do elenco das Organizações Globo. O apresentador, no entanto, apregoa, no período da campanha de promoção do evento, que o prêmio é conferido aos melhores artistas da televisão brasileira. Artistas de TVs brasileiras? Vá enganar cara***. O troféu dele é fútil, banal, ridículo, frívolo.

- E é assim, Marineth?

- Qualé, Athaliba. Presta a atenção. Cê tá sendo ludibriado como uma porrada de gente no país. O apresentador não passa de bucha de canhão da empresa. Os tais artistas indicados para a premiação não abrangem todo o universo que trabalha em todas as TVs. Por exemplo, entre as 14 categorias destinadas à votação dita popular só tem gente da aldeia global. Os personagens do ano da atual temporada tiveram os atores Antônio Fagundes (Bom Sucesso), Tony Ramos (O sétimo guardião) e Cláudia Raia (Verão 90). Já entre as atrizes de novela, a Juliana Paes, Grazi Massafera e Alice Wegmann.

- Pô, Marineth, só “celebridades” e “famosos”, como o apresentador arrota com aquela cara de fuinha sob o jargão “phorra meu”, né?

- Isso mesmo, Athaliba. E tem muito mais. Entre os atores de novela: Renato Góes, Jesuíta Barbosa e Reynaldo Gianecchini. No caso das atrizes de série, Marjorie Estiano, Adriana Esteves e Letícia Colin. Nos atores masculinos da modalidade, Rodrigo Lombardi, Antonio Calloni e Júlio Andrade. Entre os coadjuvantes, feminino e masculino: Paolla Oliveira, Agatha Moreira, Fabíula Nascimento, Malvino Salvador, Sérgio Guizé e Armando Babaioff. Os atores revelação de ambos os sexo, as travestis Nany People e Glamour Garcia, Carol Garcia, Rafael Queiróz, Kaisar Dadour e Orlando Caldeira.

- Marineth, essa lista não acaba não? É infindável?

Fausto Silva
Com programa de baixa qualidade na TV Globo, Faustão ficou milionário e acaba de comprar triplex no valor de R$35 milhões. (Imagem da Internet)

- Athaliba, tem mais artistas entre outras modalidades. Por exemplo: ator e atriz mirim João Bravo, Valentina Vieira e Maria Alice Guedes. Na comédia, Welder Rodrigues, Dani Calabresa e Marcelo Adnet. No jornalismo, Sandra Annenberg, Renata Vasconcellos e Maria Júlia Coutinho. E na modalidade cantor e cantora: Luan Santana, Dilsinho, Ferrugem, Marília Mendonça, Iza e Ivete Sangalo. Muitos do eleco da gravadora Som Livre. Na modalidade música do ano, “Atrasadinha” (Felipe Araújo e Ferrugem), “Jenifer” (Gabriel Diniz) e “Dona de mim” (Iza).

- Ufa, Marineth! Acabou? Nenhum desses artistas entende que é usado como marionete? E as entidades organizadas da sociedade civil que representam os artistas não se manifestam contra essa picaretagem televisiva que afronta a categoria? São coniventes, subservientes?

- Athaliba, certa vez me disseram que “artista é artista”. E, creia que, ainda hoje, pergunto-me o significado dessa observação. O que ocê acha?

- Ora, Marineth, é possível que isso lhe tenha sido dito num contexto de situação abstrata. O cenário, provavelmente, foi de que o “artista” em questão, por ser “artista” tudo podia e assumiu a condição plena de atos irregulares batendo no peito que era “artista”.

- Athaliba, cê é minha tábua de salvação.

- Marineth, tem um episódio no qual a ator Wagner Moura, em entrevista, foi chamado de “celebridade”. Ele quicou na hora. No ato, gentilmente, ele pediu que não fosse rotulado como “celebridade”. Disse que era artista dedicado à cultura da arte e, como tal, comprometido com a arte do povo.

- Athaliba, a mais recente notícia sobre o Faustão é que ele comprou por R$ 35 milhões cobertura triplex com mais de 1.400m², com 10 banheiros e 20 vagas na garagem, na Zona Oeste de São Paulo, no Jardim Europa. O valor do condomínio mensal é de R$ 11 mil. Trata-se de um dos mais caros edifícios do Brasil.

- Sabe, Marineth, creio que a TV Globo ainda pode ser útil ao Brasil. Para o Faustão, com “capilé”, “papel bordado” suficiente para comprar aptº de R$ 35 milhões ofereço “Júlia/Moreno”, de Caetano Veloso: Ouça no link: https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/229037/.

“Uma talvez Júlia
Uma talvez Júlia não
Uma talvez Júlia não tem
Uma talvez Júlia não tem nada
Uma talvez Júlia não tem nada a ver
Uma talvez Júlia não tem nada a ver com
Uma talvez Júlia não tem nada a ver com isso
Uma Jú________lia
Um quiçá Moreno
Um quiçá Moreno nem
Um quiçá Moreno nem vai
Um quiçá Moreno nem vai querer
Um quiçá Moreno nem vai querer saber
Um quiçá Moreno nem vai querer saber qual era
Um Moreno”

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

Comentários


  • 28-02-2020 21:07:53 João Brito tempoetica Itabira

    Brilhante Lennon.

  • 18-12-2019 16:23:01 Eliana

    Odeio essa caixa de futilidades!!!