Rio - Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).
Ligado à Secretaria de Comunicação - SECOM, o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, sob o comando do secretário especial Fabio Wajngarten.
Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão, de sua prole e de seus colaboradores.
O governo de Jair Bolsonaro já mudou de ideia ou recuou de decisões que estavam tomadas ou anunciadas, tantas vezes que o setor de comunicação do governo está em pânico.
Os recuos e desmentidos, quase diários, estão atrapalhando os trabalhos do Departamento de Recuos e Desmentidos.
Os trabalhos estão se acumulando e os poucos funcionários não tem dado conta da demanda.
Esta semana, o Presidente chamou o secretário Wajngarten, às pressas.
O secretário entra na sala, esbaforido.
- Preciso falar urgente com você - diz o Presidente, suando frio.
- Espero que seja algo realmente grave. Estou cheio de serviço essa semana - diz o secretário.
- Vou revogar o edital que excluía a “Folha de São Paulo” da relação de veículos em processo de licitação da Presidência para fornecimento de acesso ao noticiário da imprensa.
- Já!!! Eu alertei o senhor sobre o risco de o seu governo sofrer processos judiciais, incluindo pedidos de impeachment. Veja o que aconteceu com a Dilma! E nem provaram as “pedaladas”.
- É verdade. Tá todo mundo entrando com ações na justiça: juristas, entidades que defendem a liberdade de expressão, a ABI, o PC do B, o PSL e até o PT. Porque eles estão defendendo um jornal? Eles nem sabem ler.
- Presidente isso vai dar muito trabalho ao departamento. Essa semana estamos cheio de serviço. Tivemos que desmentir que a terra é plana; negar que o porteiro do seu condomínio conheça o senhor; negamos que os militares vão se aposentar com 8 anos de trabalho e os civis com 80; que o Eduardo culpou o Leonardo DiCaprio pelas queimadas da Amazônia; negamos que o novo presidente da Funarte, Dante Mantovani tenha dito que os Beatles surgiram para implantar o comunismo no mundo e que o rock de Elvis Plesley seja culpado pelos abortos; e negamos que a Damares Alves (ela de novo!) tenha dito que a cerveja Bock faz apologia ao sexo oral.
- Contrata mais gente, talkey?
- Mas, presidente, e a sua política de redução dos gastos públicos?
- É uma questão de segurança pública.
- Isso vai pegar mal para o seu governo. O senhor já negou estar querendo prejudicar os jornais ao assinar medida provisória que acabava com a obrigatoriedade de empresas publicarem balanços diários em jornais impressos. Já voltou atrás da decisão de não renovar a concessão da TV Globo...
- Vamos revogar, talkey?
- Mas, Presidente, o senhor disse que a Folha não servia nem para forrar o galinheiro.
- Disse.
- Disse, também, que ia boicotar produtos de anunciantes do jornal e que não leria mais o jornal.
- Wajngarten, o tiro saiu pela culatra, talkey. O número de leitores do jornal aumentou; tá todo mundo comprando o jornal para ver quais os produtos que eu boicotei. E esses produtos estão vendendo mais ainda!
- E, pior - diz o secretário. - As assinatura triplicaram. Está todo mundo querendo ler o jornal que o presidente censurou.
- Viu!? E depois, o Carluxo adora a página de quadrinhos deles!!
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