Rio - Na mitologia grega, Medusa era uma mulher que tinha serpentes em vez de cabelos e transformava em pedra todos os que olhassem direto para o seu rosto.
Com o humor das cartunistas, é assim.
É difícil encarar o traço das meninas sem ficar parado, extasiado, quase petrificado.
Lembrei-me de uma frase da cartunista Crau: “Você não precisa escrever. O cartum fala sem precisar de palavras. Desenhar é muito poderoso”.
Desde o início do século, com a seminal Nair de Teffé (1886-1981), passando pela “elefoa” da cartunista Fabiane Langona, até a boneca inflável da Pryscila, as mulheres tem nos encantado com seus traços, ironia e sarcasmo.
Antes eram poucas. Hoje são muitas.
Em 1997, a cartunista Crau da Ilha reuniu um monte delas na revista “As Periquitas”.
Maria Cláudia França Nogueira, que adotou “Crau” como assinatura, é uma artista paulista nascida em 1956. Cartunista, quadrinista, ilustradora, pintora, poeta e mãe de quatro filhos.
Aos 18 anos, juntou um monte de desenhos que tinha em um caderno e levou para o cartunista Fortuna, que na época editava a revista “O Bicho”
Fortuna gostou dos traços cheios de personalidade da jovem e, partir daí, Crau passou a publicar na revista que tinha entre seus colaboradores Angeli, Laerte, Chico Caruso, Jaguar e o próprio Fortuna.
Na “O Bicho”, Crau ilustrava, desenhava, editava e trabalhava também como redatora ao lado do humorista Fortuna. Na sequência, trabalhou na “Grilo”, “Balão” e “O Pasquim”.
Em 1977, foi morar em Ilha Bela, e trabalhou em vários jornais no litoral norte de São Paulo como “Imprensa Livre”, “Jornal da Ilha” e “Diário do Litoral Norte”, entre outros.
Em 1997, depois de um encontro com os cartunista Gualberto e JAL, Crau idealizou “A Periquita”, uma publicação de humor gráfico reunindo apenas mulheres.
Na ocasião, Gualberto, alegando que quase não havia cartunistas mulheres, provocou a cartunista: “Por que será que as mulheres começam a fazer mas não persistem no cartum?”
“Estou pensando em fazer uma revista de mulheres cartunistas”, respondeu.
Os cartunistas adoraram a ideia e passaram para a cartunista o contato de dezenas de meninas que estariam fazendo cartum e quadrinhos.
Foi então que surgiu a revista “As Periquitas”, com a participação de 40 mulheres, reunidas por Crau.
"A ideia da obra foi homenagear a revista de humor “O Papagaio”, que existiu no começo do século 20, e era feita por desenhistas homens.
Cheguei a pensar em “A Arara”, mas havia o pau-de-arara, da ditadura, então optei por “A Periquita”. No singular. Foram chegando mais artistas, e virou “As Periquitas”, disse.
Embora tenha provocado um movimento aglutinador, a revista não chegou a ser editada na época.
Em 2013, finalmente saiu a revista-livro “As Periquitas”, que chegou a ser indicada para o Prêmio HQ Mix, Publicação de Humor Gráfico de 2014.
Na edição de estreia, a revista contou com uma grande entrevista da cartunista Laerte e a presença de colaboradoras de peso como Ciça, Mariza Dias, Cláudia Kfouri, Natalia Forcat, Carla Guidacci, Lorena Kaz e Germana Viana, entre outras.
Foi uma revista feita por mulheres de humor e opinião.
“As Periquitas” provou que desenho de humor não é só coisa de homem.
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