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APPE E "O CRUZEIRO"

Rio - Bons tempos aqueles em que em todas as bancas de jornais você encontrava a revista “Cruzeiro”.

E em todas as barbearias, também.

A “Cruzeiro”, revista semanal ilustrada, lançada no Rio de Janeiro, em 10 de novembro de 1928, era o maior sucesso editorial da época. 

A revista, que originalmente se chamava “Cruzeiro”, a partir da edição de número 30, ganha o artigo e passa a ser chamada de “O Cruzeiro”, nome que permanece até seu fim em julho de 1975.

Editada pelos Diários Associados, do jornalista Assis Chateaubriand a revista lançou no mercado um grandes número de cartunistas.

divulgação: Appe

No começo, a revista trazia apenas charges ou ilustrações estrangeiras e só mais tarde passou a ter cartunistas brasileiros. 

Passaram pela revista Péricles, Alceu Penna, Carlos Estevão, Appe, Millôr Fernandes, Borjalo, Zélio e Ziraldo, entre outros.

Millôr Fernandes estreou na coluna humorística “Poste Escrito” com apenas 14 anos. 

Na década de 1940, Millôr, assinando como Vão Gogo, fez dupla com Péricles que já ilustrava a coluna Pif-Paf .

Em 1943 o cartunista Péricles cria o personagem “O Amigo da Onça”.

O sucesso foi tanto que os desenhistas da “O Cruzeiro” tiveram que dar continuidade ao personagem, mesmo após o suicídio de Péricles, em 1961.

Amilde Pedrosa, o Appe, foi um dos mais consagrados cartunistas da “O Cruzeiro”.

Começou a trabalhar  na revista como paginador,  ilustrador e chargista político, em 1952. Na década de 70, ganha duas páginas na revista, onde cria a coluna Blow-Appe, que manteria até pouco antes do fechamento da revista, em 1975.

O cartunista que se chamava Anilde e não Amilde, não gostava do seu verdadeiro nome que lhe valeu o apelido indesejado de “Anil” - um produto usado para clarear roupa - dado pelos colegas, nasceu no Acre, em 20 de maio de 1920. 

Começou a trabalhar como repórter colaborador e, mais tarde, como ilustrador em jornais de Manaus. 

Publicou sua primeira charge em 1940 e realizou a sua primeira exposição individual de caricaturas em 46.

Um ano depois, transferiu-se para o Rio, onde, já com o apelido acróstico de Appe, criou suas primeiras charges políticas no “Diário da Noite”. 

divulgação: Appe

Trabalhou nos jornais “A Manhã”, “A Vanguarda” e em “O Jornal”: “O pessoal me achava cara-de-pau porque eu fazia charges anticomunistas, disse numa entrevista. Mas sou um profissional, nunca tive cor ideológica”.

No início dos anos 60, passa a viver com Neusa, que seria sua companheira por toda a vida.

Em 1977, grava um depoimento para o Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. 

No ano seguinte, muda-se para Versailles, na França. Retorna ao Brasil em 1980.

Volta a colaborar com vários jornais e revistas e tem algumas de suas charges censuradas, como a que mostrava Papai Noel levando ao Congresso Nacional um saco onde se lia a inscrição “Cassações”.

Dedica-se à pintura em seu novo ateliê, em Teresópolis, no Rio de Janeiro.

Em 2004, por motivos de saúde, procura um local de clima mais ameno. Vai morar em São Pedro da Aldeia, região litorânea do estado do Rio de Janeiro.

Appe morreu de problemas cardíacos e pulmonares, em 4 de agosto de 2006, aos 86 anos de idade, no município fluminense de São Pedro da Aldeia.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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