Rio - Eles tinham atrás deles “O Pasquim”, o maior fenômeno editorial da imprensa brasileira.
Foi pendurados na fama do “O Pasquim” que Nani, Duayer, Guidacci, Coentro e Jésus Rocha, fundaram o “Pingente”.
No fundo, o “Pingente” era um jornalzinho anarquista, misto de “O Pasquim”, “Harakiri” e “Village Voice”.
Assumidamente nanico, moleque e irresponsável, o jornal nasceu da necessidade de mais espaço para os cartunistas publicarem seus trabalhos mais autorais.
“Pingente” foi um semanário lançado em 6 de junho de 1977 com uma grande festa no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, que publicou cartunistas de todo o Brasil, entre eles Reinaldo, Demo, Nilson e o escritor e roteirista Alexandre Machado.
Segundo Duayer, um dos sócios: “Foi um conflito de gerações que pariu o "Pingente". Os editores do “O Pasquim” ocupavam oitenta por cento do espaço do jornal e nós, jovens cheios de idéias novas, queríamos mais espaço”.
Foi justamente essa necessidade que fez os cinco cartunistas criarem a Editora Chalaça e, em sociedade com a Editora Codecri, editar o “Pingente”.
A idéia de fazer um jornal mais à esquerda do “O Pasquim”, mais crítico à ditadura; e com uma nova linguagem, nunca aceita pela direção do “O Pasquim”, motivou os rapazes a buscar novos caminhos.
Foi, sem dúvida, uma aventura. Quando o "Pingente” chegou às bancas, em 1977, os militares apoiado pelo, agora “legalizado” AI-5, apertavam a censura.
“O Pingente nasceu como “O Pasquim”: “livre como um táxi” e “equilibrado como um pingente”.
“Pingente”, por sinal, foi o nome dado por Guidacci, no sentido de mais um marginal pendurado na beira do abismo em que estava o país.
O primeiro número, com distribuição nacional pela Abril, saiu com uma tiragem de 40 mil exemplares. Vendeu 13 mil em bancas. Aumentaram a tiragem para 60 mil e chegaram a vender 22 mil exemplares, só nas bancas.
No dia 1º de novembro de 1970, Tarso de Castro, Ziraldo, Jaguar, Fortuna, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel e o fotógrafo Paulo Garcez foram presos na redação do “O Pasquim”, invadida pelo exército.
Em janeiro de 1972, pressionado pela censura, cada vez mais perseguido por terroristas de direita, boicotado pelas agências de publicidade e imerso em dívidas, “O Pasquim” viu-se num beco sem saída.
Com as finanças abaladas, a Editora Codecri, dona do “O Pasquim” e sócia da Editora Chalaça começou a atrasar os pagamentos de anúncios, de vendas e de assinaturas ao “Pingente”. Os valores eram depositados na conta do jornal com atrasos superiores a dois e três meses.
Sem recursos para honrar suas despesas e sem capital de giro para continuar rodando o jornal o grupo assinou um acordo com a direção do “O Pasquim” e virou um suplemento de oito páginas encartado no “O Pasquim” com o mote: “O Pasquim não pode ser vendido separadamente”.
O “Pingente” se aproximava do fim.
A sentença de morte veio em 1978. Na época, os grandes frigoríficos fizeram uma campanha contra a criação suína por particulares (pequenos, médios e grandes) “devido” a Peste Suína Africana. O governo, encampou a ideia e dizimou todo o plantel suíno no país ocasionando grave crise no mercado.
O tablóide, então, publicou um desenho do cartunista Shimamoto - Júlio Shimamoto, desenhista de histórias em quadrinhos brasileiro de ascendência japonesa - de página inteira retratando “A Fuga do Egito” (de Maria, José e Jesus) todos representados por suínos.
O desenho provocou uma longa e virulenta carta escrita pelo famoso jurista e líder da direita católica Sobral Pinto, enviada a direção do "O Pasquim", que criticava o jornal e via no desenho um inadmissível ataque à Igreja Católica.
A Codecri, ela mesma várias vezes vítima da censura, resolveu aceitar a crítica e acabar com o jornal.
O “Pingente”, então, caiu.
Comentários