Coluna

Dono da verdade

Não sou dono da verdade. Aceito com a mesma tranquilidade opiniões favoráveis ao que escrevo e opiniões contrárias a meu pensamento. Minha única preocupação é ser fiel às ideias em que acredito.

As proposições das quais discordamos podem revelar verdades que não conhecíamos.

Quando um texto, escrito por este ou por aquele, provoca controvérsias, isto prova que o autor disse alguma coisa.

Quando ninguém se manifesta, nem a favor, nem contra, o autor deve ficar desapontado porque, com toda certeza, discorreu sobre o sexo dos anjos.

O debate contribui para o avanço de um povo.

Alguns textos que escrevi em “A Gazeta”, de Vitória, foram rebatidos na coluna de Cartas dos Leitores, o mais democrático espaço do jornal. Muitos outros foram elogiados e compartilhados.

Nasci em Cachoeiro de Itapemirim, uma cidade onde o pensamento divergente sempre circulou como senha de inteligência.

Newton Braga, símbolo de minha terra, foi um alternativo, no seu modo de viver. Renunciou a um cartório – vida financeira tranquila – porque um juiz de poucas luzes quis obrigá-lo a usar gravata durante todo o expediente. Recusou-se a sair de Cachoeiro para tornar-se tão famoso quanto o irmão (Rubem Braga) porque não podia viver longe do barulho das águas de seu rio (o Itapemirim). Criou uma festa, que é mais que uma festa – é um poema: o Dia de Cachoeiro. Uma festa alternativa porque baseada: no afeto mais puro (uma festa de amor e de doçura); na igualdade das pessoas (receberam o título de Cachoeirense Ausente Número –  um tipógrafo,  Trófanes Ramos; um cantor famoso, Roberto Carlos; um empresário, David Cruz).

De minha parte considero esse troféu o mais importante que poderia ter recebido durante toda a existência. Para um escritor, nascido na cidade guardada pelo Itabira, ser Cachoeirense Ausente Número Um é mais significativo do que ingressar na Academia Brasileira de Letras. Quem não é cachoeirense supõe que isto seja um exagero, mas exagero não é.

Na Academia entram gregos e troianos. Entram escritores e pseudo-escritores. A Academia rejeitou o ingresso de Geir Campos, rejeição que deslustrou a entidade e em nada diminuiu a glória do poeta que escreveu estes versos:

“Morder o fruto amargo e não cuspir mas avisar aos outros quanto é amargo. Cumprir o trato injusto e não falhar mas avisar aos outros quanto é injusto.”

Tenho a honra de ter sido Juiz de Direito em São José do Calçado, cidade natal de Geir Campos.

João Baptista Herkenhoff (ES)

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Direito e Cidadania

JOÃO BATISTA HERKENHOFF, é Juiz de Direito aposentado. Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória e também um dos fundadores do Comitê Brasileiro da Anistia (CBA/ES). Por seu compromisso com as lutas libertárias, respondeu a processo perante o Tribunal de Justiça (ES), tendo sido o processo arquivado graças ao voto de um desembargador hoje falecido, porém jamais esquecido. Autor de Direitos Humanos: uma ideia, muitas vozes (Editora Santuário, Aparecida, SP).

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