Rio - No final dos anos 90, fomos, eu e o músico, cantor e compositor Marcus Lucenna, entrevistar o arquiteto Sérgio Bernardes, um dos maiores nomes da arquitetura brasileira.
Sérgio é arquiteto, urbanista, designer, escritor, poeta e, sobretudo, um humanista incompreendido pelo seu tempo.
O papo rolou no apartamento do arquiteto, na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio. Num apartamento amplo, com 120 metros quadrado e pé-direito generoso de 3 metros, erguido num prédio dos anos 70, projetado pelo próprio Sérgio.
Sérgio Bernardes começou cedo; aos 15 anos projetou sua primeira casa para um amigo do pai.
Quando jovem, teve uma vida social agitada. Em sua casa na Av. Niemeyer, recebia nomes como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi e Le Corbusier.
Era apaixonado por aviões e corridas de automóveis. Vencedor da Bienal de Veneza, em 64, trocou o prêmio por uma Ferrari.
No início da carreira, trabalhou com Lúcio Costa e Oscar Niemayer.
Apesar de ter sido premiado por grandes projetos no Brasil e no exterior, como o Pavilhão de São Cristovão, no Rio; o Pavilhão das Bandeiras, na Praça dos Três Poderes, em Brasília; o Hotel Tambaú, em João Pessoa; o Mausoléu de Castelo Branco e o Palácio do Governo do Ceará, em Fortaleza; destacou-se por projetos residenciais. São dele os projetos de casas de muitas celebridades, como a do cirurgião Ivo Pitanguy.
Sérgio Bernardes, apesar dos quase 80 anos, nos impressionou por sua memória afiada e personalidade singular, apaixonante e tão inventiva e questionadora quanto bem humorada.
Apesar de ainda trabalha de 16 à 18 horas por dia, se dizia um vagabundo: "Só não mato ninguém por preguiça de esconder o corpo".
Entre suas frases preferidas, destacamos estas:
"Algumas pessoas vão levando a vida como se nada fizesse sentido".
"Eu invento meu mundo e cada um de vocês deve inventar o seu mundo".
"O futuro é a coisa mais secreta que nós temos".
Saímos da casa do Sérgio e fomos tomar umas cervejas na barraca da Chiquita, na Feira de São Cristovão. Viramos a noite. Bebemos tanto que perdi o gravador com a entrevista. Mas, valeu pelo papo com o grande Sérgio Bernardes. E o porre com Lucenna.
Sérgio Bernardes nos deixou em junho de 2002, aos 82 anos.
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