Rio - No final dos anos 90, fomos, eu e o músico, cantor e compositor Marcus Lucenna, entrevistar o arquiteto Sérgio Bernardes, um dos maiores nomes da arquitetura brasileira.
Sérgio é arquiteto, urbanista, designer, escritor, poeta e, sobretudo, um humanista incompreendido pelo seu tempo.
O papo rolou no apartamento do arquiteto, na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio. Num apartamento amplo, com 120 metros quadrado e pé-direito generoso de 3 metros, erguido num prédio dos anos 70, projetado pelo próprio Sérgio.
Sérgio Bernardes começou cedo; aos 15 anos projetou sua primeira casa para um amigo do pai.
![sergio bernardes e oscar niemayer](/img/materias/editor/20190806_oscar_niemayer.jpg)
Quando jovem, teve uma vida social agitada. Em sua casa na Av. Niemeyer, recebia nomes como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi e Le Corbusier.
Era apaixonado por aviões e corridas de automóveis. Vencedor da Bienal de Veneza, em 64, trocou o prêmio por uma Ferrari.
No início da carreira, trabalhou com Lúcio Costa e Oscar Niemayer.
Apesar de ter sido premiado por grandes projetos no Brasil e no exterior, como o Pavilhão de São Cristovão, no Rio; o Pavilhão das Bandeiras, na Praça dos Três Poderes, em Brasília; o Hotel Tambaú, em João Pessoa; o Mausoléu de Castelo Branco e o Palácio do Governo do Ceará, em Fortaleza; destacou-se por projetos residenciais. São dele os projetos de casas de muitas celebridades, como a do cirurgião Ivo Pitanguy.
Sérgio Bernardes, apesar dos quase 80 anos, nos impressionou por sua memória afiada e personalidade singular, apaixonante e tão inventiva e questionadora quanto bem humorada.
Apesar de ainda trabalha de 16 à 18 horas por dia, se dizia um vagabundo: "Só não mato ninguém por preguiça de esconder o corpo".
Entre suas frases preferidas, destacamos estas:
"Algumas pessoas vão levando a vida como se nada fizesse sentido".
"Eu invento meu mundo e cada um de vocês deve inventar o seu mundo".
"O futuro é a coisa mais secreta que nós temos".
Saímos da casa do Sérgio e fomos tomar umas cervejas na barraca da Chiquita, na Feira de São Cristovão. Viramos a noite. Bebemos tanto que perdi o gravador com a entrevista. Mas, valeu pelo papo com o grande Sérgio Bernardes. E o porre com Lucenna.
Sérgio Bernardes nos deixou em junho de 2002, aos 82 anos.
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