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MARIZA… E DEPOIS A MALUCA SOU EU!

Mariza Dias (Foto: Divulgação)

Rio – Mariza Dias, recém-falecida aos 66 anos, foi uma artista diferenciada e única.

Quando nos conhecemos, no final dos anos 70, na redação do Pasquim - em uma de suas vindas ao Rio - eu não bebia nada, ela já bebia muito. Magricela, pernas finas, estava sempre com um copo e um cigarro nas mãos. Ria muito. Sempre foi muito louca.

Todo mundo, como você e eu, tem suas listas de melhores em cada arte. Nossos ídolos. Para mim, os maiores ilustradores brasileiros são Marcelo Monteiro, no Rio de Janeiro (O Globo) e Mariza Dias, em São Paulo (Folha de São Paulo).

Mariza Dias Costa, nasceu em 1952, na Guatemala. Filha do diplomata Mário Dias Costa ( tempo em que para ser diplomata era preciso mais do que fritar hambúrguer), mentor do seminal show da Bossa Nova no Carnegie Hall, em Nova Iorque.

Autodidata, criou um traço ambíguo, ousado e perturbador, no limite da expressão arte/loucura. 

Era uma mulher de uma vasta cultura. Viveu em países como Suíça, Perú, Itália, França, Paraguai e Iraque. Falava português, inglês, francês, italiano, espanhol e se virava bem em árabe e grego. 

No tempo em que havia pranchetas no centro das redações, Mariza, uma apaixonada por gatos,  entrava pelo jornal fazendo um barulho, como um miado de gato assustado, bem alto, que arrancava gargalhadas de todos. Era divertida.

Trabalhou nos jornais “Opinião”, “Pasquim”, “Folha de São Paulo” e nas revistas “MAD” e “Circo”. 

Fez frilas em diversos outros.

No Pasquim, no final dos anos 70, conheceu Paulo Francis. A parceria iniciada no semanário carioca, migrou para as páginas da Ilustrada, na “Folha de São Paulo”, em 1979, quando Mariza se mudou para São Paulo. 

Toda quarta e sábado, Francis escrevia metade da página e a arte vigorosa e explosiva de Mariza ocupava a outra metade. Figuras de dentes expostos e olhos esbugalhados, saltavam da prancheta da artista para as páginas de o “Diário da Corte”, entre 1978 e 1990. No final dos anos 90, Mariza passou a ilustrar, também, a coluna de Contardo Calligaris.

Teve um único filho, Diogo, que nasceu com problemas incuráveis de malformação cardíaca. Com dois anos e meio, depois de muita luta, Diogo faleceu. Mariza mergulhou em uma depressão sem fim. 

Da mesma época é o convívio mais intenso com as substâncias capazes de provocar alterações de estado de consciência, como maconha, cocaína, LSD. Mandrix e até o crack. Qualquer coisa era consumida avidamente. 

Na fase mais grave do vício, sem dinheiro, Mariza percorria as mesas da redação da Folha oferecendo aos repórteres e editores os originais de suas artes, por 20 reais, ou o que você pudesse oferecer.  

Sempre às voltas com problemas financeiros, ainda assim, Mariza sempre doce, gentil e generosa, oferecia jantares e nunca negava ajuda aos amigos que precisavam. O amigo e editor Toninho Mendes, foi hóspede durante um bom tempo em sua casa, na Vila Anglo Brasileira, em São Paulo.  

A pessoa que mais ajudou e batalhou pelo reconhecimento da Marisa, além de cuidar dela como um irmão, amigo e às vezes um pai foi o Orlando Pedroso. “Ela foi um divisor de águas em termos de ilustração nos jornais brasileiros. Para mim, a ilustração brasileira se divide entre A/M e D/M. Antes e depois da Mariza.” - dizia Orlando Pedroso.

Fã e amigo, Orlando Pedroso, editou, junto com Toninho Mendes, antes de sua morte, o livro “E Depois a Maluca Sou Eu”, uma coletânea de  trabalhos de Mariza, publicados na imprensa.

Foi o melhor presente que ela ganhou na vida!

 

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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