Coluna

BOLSONARO E OS APOSENTADOS

Arte: Nani

Rio - Adoro os filmes policiais.

Gosto, principalmente, dos seus clichês.

Quem nunca viu a cena em que o bandido coloca a arma na cabeça da vítima e fala para o mocinho: “entregue o dinheiro ou eu estouro os miolos dela!”
Bolsonaro, com certeza, já viu.

Neste sábado, sem nada melhor para fazer, o capitão foi às redes sociais e em tom de ameaça avisou o Congresso Nacional: “entreguem o dinheiro ou eu mato os aposentados!”

Ou, quase isso.

Na verdade, o presidente Jair Bolsonaro disse aos deputados e senadores que o Brasil está quebrado e fez um apelo para que eles aprovem, na terça-feira, um “empréstimozinho” de R$ 248 bilhões para fazer frente às despesas do governo. 

“Sem a aprovação do empréstimo pelo Congresso teremos que suspender o pagamento de benefícios a idosos e pessoas com deficiência, aposentadorias, Bolsa Família, Pronaf, Plano Safra… Faltará recursos até para fazer as compras do mês do Palácio da Alvorada. A Michele já anda preocupada - escreveu Bolsonaro em sua rede social, na noite deste sábado.

Estranhamente, o capitão não falou em cortar privilégios, mordomias, viagens, salários irreais, verbas obscenas, gastos desnecessários, cargos ou despesas.

A notícia de que o país está quebrado, no entanto, pegou todos de surpresa, no Palácio do Planalto. 

A comoção foi geral. Até a moça do cafezinho se compadeceu com a penúria do país.

- Presidente, pode ficar com parte do que sobrou do meu salário. Quero ajudar a reerguer o país - disse, estendendo algumas moedas para o presidente.

- Não se preocupe, não quero o sacrifício dos mais pobres. Os aposentados podem esperar.

- Pode pegar, presidente. Não quero que o país sacrifique ainda mais os aposentados.

- Infelizmente, o país não tem dinheiro. Todos nós temos que dar nossa cota de sacrifício pelo país, entende?

- Mas porque os aposentados? Por quê o senhor não corta os R$ 4 milhões gastos por ano para manter os jardins do Palácio da Alvorada?

Cortando os gastos com publicidade, o governo pouparia R$ 75,5 milhões só no primeiro trimestre.

Se o governo desistir de comprar carros novos blindados para a presidência e vice-presidência, serão mais R$ 7,1 milhões de economia.

Cancelando, como o senhor prometeu, os gastos da Presidência da República com cartões corporativos serão mais 5 milhões economizados por ano.

Com as viagens o governo poderia já ter economizado 33 milhões, só nos primeiros 3 meses.

Cada Senador custa aos cofres da União 33 milhões por ano. Como eles certamente vão querer ajudar o país a sair do buraco, cortando 50% do salário deles o senhor terá mais uma economia de, aproximadamente, 1,5 bilhões por ano.

Como os deputados não vão permitir que só os senadores se sacrifiquem pelo país, o senhor poderá cortar deles parte dos R$ 33.763,00 do salário, parte dos R$ 4.253,00 do auxílio moradia, parte da verba de 92 mil para contratação de funcionários, parte dos R$ 45.612,53 dos gastos com alimentação, aluguel de veículos, aluguel de escritórios, viagens e outras despesas.

Cortando o auxílio-paletó pago aos políticos do Congresso Nacional o país vai economizar R$ 63,1 milhões por ano.

Acho que só isso já daria para pouparmos os aposentados do sacrifício.

- Você está louca! E deixar os aposentados nas ruas com todo esse dinheiro no bolso? Pobre adora fazer compras. Se eles forem às compras, isso pode disparar o consumo e aumentar a inflação. 

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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