No fundo sempre esperamos um final feliz para qualquer história: seja do menino pobre que vence na vida; do herói que, finalmente, salva o dia; do empregado que consegue alcançar o maior posto de comando em uma empresa e, por que não, do final feliz entre dois amantes, dois apaixonados que juram por todas as juras que o seu amor será eterno, enquanto durar.
De todas as histórias, mesmo o menino pobre que não vence na vida, acaba aprendendo uma lição, do herói que, apesar de não salvar o dia, mostra a coragem na luta e do empregado que, mesmo não alcançando o posto de supremo mandatário da empresa, coleciona as amizades e a admiração de seus pares. De uma certa forma eles têm um final feliz.
Ah! E os amantes?
Quando o final feliz adiado sine die, finalmente, encontra um final, a lição que se aprende é transformadora. Uma história de amor ao seu término invariavelmente deixa, para um dos lados, a dor da perda. O que se ganha em experiência, por mais que se transforme em lição, na verdade, fere o ser naquilo que a razão não se sobrepõe: A razão não se sobrepõe às razões do coração.
Para esse ser que sobra da relação, resta a dor da perda. Levar por um longo período da vida, mesmo que outras relações se estabeleçam, uma história sem fim. Uma história que nunca acaba dentro de si mesma. Uma história que a mente traz à tona no cheiro do perfume, no tom da voz, e nas fotografias que são deixadas de lado, mas que o manuseio traz a maciez da pele, do toque fino dos cabelos e no macio adocicado da boca.
Uma história sem fim é uma história que ultrapassa o final feliz. É a história interminável que sempre cai na conversa com os amigos, na visão distante do ser que se foi, do ser que não quis fazer mais parte da história.
Para os outros, a matéria da perda é sempre recuperada adiante, trazida pela experiência vivida. Para o amor não. Para o amor, um amor verdadeiro não consegue ser substituído. Ele é sempre cobrado, comparado, e pune mesmo aqueles amores que venham a habitar o coração abandonado.
Uma história sem fim de abandono é uma história que nunca vai terminar. Os atalhos, os caminhos que se trilham mais adiante são mais uma busca pelo amor perdido do que propriamente o encontro de um novo amor.
O novo amor vem mais maduro, não tão emotivo, mais preparado para a decepção, mais pronto para o soerguimento, vem com a sensação da perda já embutida nos beijos e nas promessas.
Paixões são vividas ad eternum, buscadas e conquistadas. Mas, são sempre calcadas na prudência, na preparação da perda. Ou são tratadas com desprezo, como se uma vingança interna estivesse sempre de tocaia.
A primeira paixão marca, é profunda, penetrante em um coração desavisado, aberto ao mundo, sem um colete para a flecha perdida lançada por um Cupido inconsequente.
A primeira paixão, essa sim, é uma história sem fim.
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