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OTÉLO CAÇADOR, 13 ANOS SEM O CARTUNISTA

Otélo Caçador (Foto: Arquivo pessoal do artista)
Otélo Caçador (Foto: Arquivo pessoal do artista)

Rio - O jornalista e cartunista Otélo Caçador - se vivo fosse - faria esse ano 93 anos.

Otélo, para quem não lembra, fez durante 33 anos uma página de humor - Penalty - no jornal "O Globo".
 
Começou a carreira em 1947, no "Jornal dos Sports". Publicou dois livros e foi um dos artistas mais criativos e influentes da sua época.
 
Em 2005, eu editava o "Cartoon" - jornalzinho de humor criado com o fim do "Pasquim" - e junto com Jaguar (O Dia), Ykenga (O Povo), Ferreth (Extra) e Leonardo (Extra), fui entrevistar o mestre.
 
Otélo nos recebeu no Degrau, um dos seus bares preferidos. A poucas quadras de sua casa. Os outros bares que ele adorava frequentar eram o Bracarense, o Clipper e o Bar Senegal.
 
Todos no Leblon, bairro onde morava e de onde não saía há mais de vinte anos.
 
Destaco alguns trechos que, por edição e falta de espaço, ficaram de fora da entrevista:
 
"Certa época - dizia - inventei que o técnico Feola dormia durante os jogos e Havelange contratara um garoto para ficar soltando foguetes perto do 'gordo', a fim de mantê-lo acordado. Durante a partida, muitos torcedores olhavam o túnel onde o técnico ficava para ver se o doce Feola estava dormindo mesmo."
 
Era vingativo:
 
"Ainda rapaz, arrisquei  a carreira de jogador no aspirante do Flamengo, mas fui barrado pelo técnico Flávio Costa. Fiquei revoltado. Depois, por vingança, esculhambei com a profissão dele. Mas eu era ruim mesmo".
 
Otélo bebia muito. Vivia constantemente de ressaca. Aliás, o cartunista tinha uma excelente e "infalível" receita para curá-la: rezar para o tempo passar. 
 
"Qualquer dia o homem descobre a cura para a Aids, mas ressaca é uma punição. Não tem jeito, só o tempo resolve. Nestas horas, além de rezar, é bom estar perto da mulher amada. Não acaba com o problema, mas, pelo menos, alivia - dizia."
 
Além de bebedor era um grande frasista. É dele as célebres frases e termos futebolísticos como: "Rei do Futebol", "Manto sagrado", "Montinho artilheiro", "Todo campeonato tem um campeão moral", "Pênalti não é coisa que se perca", "A torcida do Botafogo cabe numa Kombi", "Coração de torcedor não bate. Apanha" e, claro, "Zico: joia de família do Flamengo". Mas a frase mais célebre, sem dúvida é: "Brasileiro que não entende de futebol já nasceu morto".
 
O cartunista também criou a expressão "Rei Pelé".
 
"Tinha visto um filme do Victor Mature, "O Rei do Futebol", sobre futebol americano, rugby. Aí lancei o Zizinho como Rei do Futebol, mas não colou. Quando fiz o Pelé, pegou na hora, porque ele realmente era o Rei. Mas Pelé diz que foi a imprensa francesa, dá mais moral." - dizia.
 
Otélo era querido por todos. Chico Caruso, parceiro de copo e de profissão definiu o cartunista: "Otelo, o verdadeiro grande Otelo (1,80m) é um carioca leblonense fundamentalista, uma espécie de Aiatolá da folia e bom de papo, que costuma dar aula particular aos amigos no Bracarense das 14 às 16 horas, com entrada franca. Um observador privilegiado do futebol e da vida, do tempo em que ambos eram risonhos e francos."
 
Em março de 1999 a coluna "Penalty do Otélo" voltou a ser publicada, dessa vez no jornal "Extra", em cujas páginas permaneceu até outubro de 2002.
 
Otélo Caçador faleceu em janeiro de 2006, no Rio de Janeiro, com 80 anos.
 
*Ediel Ribeiro é jornalista, escritor e cartunista.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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