Coluna

Casamento de casais LGBTi em Alucard

O beijo de Fernanda e Natáilia retratou o cotidiano da vida brasileira, na novela Babilônia (Foto Twitter/Reprodução)
O beijo de Fernanda e Natáilia retratou o cotidiano da vida brasileira, na novela Babilônia (Foto Twitter/Reprodução)

- Athaliba, forte babado está colocando Alucard de ponta-cabeça. Trata-se da realização de união coletiva de lésbicas, programada para a noite de Natal. O evento tá sendo organizado pelas irmãs gêmeas Francinete e Ivonete, lésbicas. Uma é ativa e, a outra, passiva. Elas já contabilizam 15 casais confirmados, enquanto outros 10 aguardam aprovação, atendendo as exigências do cartório. Acontece que a transexual Mary Help entrou no circuito e tenta convencer as gêmeas a abrir espaço no casamento coletivo para a inclusão de casais gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais, que integram a sigla LGBTi.

- O corre-corre, Marineth, se deve ao pavor da comunidade LGBTi de ver configurada a promessa do presidente eleito em revogar direitos conquistados, conforme juramento que fez na campanha eleitoral, ao assinar termo de compromisso com a entidade chamada Voto Católico Brasil, que prega “o verdadeiro sentido do matrimônio, como união entre homem e mulher”.

- Pois é essa, Athaliba, a linha de argumento de Mary Help, liderança respeitadíssima, que orienta como alterar o gênero no documento e oficializar o casamento. O STF - Supremo Tribunal Federal - concedeu autorização para transexuais mudar de gênero no registro civil e a Resolução 175/2013 do CNJ - Conselho Nacional de Justiça - autoriza o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Ano passado foram realizados 5.887 casamentos civis homoafetivos no Brasil, 10% mais que no ano anterior, conforme dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. A união entre mulheres cresceu 15,1%, no período, enquanto, entre homens, aumentou 3,7%.

- Sabe, Marineth, o Estatuto da Diversidade Sexual e de Gênero, que visa equiparar questões do Trabalho e Previdência, entre outros direitos, e que tramita no Senado, está sujeito a ser atravancado pelo futuro governo.

- Uai, que trem. As irmãs lésbicas - Francinete é marido de Deolinda e, por sua vez, Ivonete, mulher de Hermelinda - acabaram acatando a proposta de Mary Help, que afirma que casais homoafetivos dos municípios limítrofes a Alucard têm pressa em regularizar a relação, casando. E uma comissão já caiu em campo para os preparativos. O casamento coletivo será realizado na praça redonda, todinha decorada pela conceituada artista plástica Sylvana Amora. A capela terá na cobertura as cores símbolo das minorias sexuais: vermelho, laranja, verde, azul e violeta, em barras horizontais. O som ficará por conta do conjunto Big Boys. Falta apenas a definição do juiz ou juíza, mas, a madrinha da cerimônia, já tá escolhida; Ela terá o nome divulgado em breve, em entrevista coletiva à imprensa, com toda a programação do evento.

- Marineth, parlamentares da bancada evangélica articulam ofensiva contra o casamento coletivo e exigem que o chefe-mor Esponjinha revogue a autorização para o evento. Junto com integrantes da TFP - Tradição, Família e Propriedade -, instituição de tradição católica que combate ideias socialistas, querem realizar culto ecumênico (ato de promoção das três principais religiões no país: catolicismo, protestantismo e espiritismo) na mesma data e local da união de casais do LGBTi.

- Essa gente, Athaliba, é mesmo muito retrógrada. Tá no atraso, na contramão da história. Devem é lutar para salvar Alucard, em estado terminal, com o fim da exploração do minério de ferro; afundada em graves problemas de difícil solução.

- Tem razão, Marineth. A Câmara de Vereadores é um balcão de negócios com o Executivo, além de explorar significativa parcela da população que vive em total miserabilidade. Os vereadores praticam o clientelismo: a política do poste de luz, da bica d’água, da rua asfaltada, donativos de tijolos e cimento, entre outros materiais de construção. A chantagem política se estende à concessão de empregos.

- Peraí, Athaliba, que trem doido é esse?

- Marineth, se você precisar de emprego, faça cadastro na Câmara de Vereadores. Ou se achegue a qualquer vereador e peça a ele que a empregue num dos órgãos públicos, feudos dos parlamentares..

- Pô, Athaliba, o atraso é assustador em Alucard. Os vereadores atuam como gângster, explorando as pessoas mais necessitadas que “vendem” o apoio em troca de favorecimento e, aí, se tornam clientes deles.

- Vamos, Marineth, aprofundar o assunto em outra conversa. A causa atual é a celebração plena do amor, expressada no casamento de casais do movimento LGBTi. Estou certo de que não haverá nenhum impedimento. E que o lendário Papai Noel, paramentado, no trenó com as nove renas voadoras, sobrevoe a praça redonda de Alucard brindando os casais com chuva de pétalas de rosa. O episódio, inédito e histórico, se perpetuará na memória do povo, criando, assim, quem sabe, a identidade de Alucard. Salve a vida e viva a alegria, com o poema Louvor à lua.

 

 

Onde estás, agora, querida, na imensidão do universo,

triste e chorosa, escondida, sem prosa, num antiverso?

 

Onde estás, agora, perdida, trilhando caminho inverso,

assim distante e esquecida, deixando sem rima o verso?

 

O mar revolto, tão agitado, tem teu doce nome gritado,

e clamado ajuda para a lua.

 

Lá do alto, cheia de luz e só, fulgura teus pés, desata nó,

ocupando o céu, linda e nua.

 

*Lenin Novaes, jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS.

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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