Coluna

O Prefeito Matuto

Em uma cidade rodeada de montanhas vivia um povo hospitaleiro e feliz, onde o DNA de seus antepassados alimentava a honestidade e fazia deste povo um dos mais admirados. Com seu trabalho e a força de seus braços, muitos adquiriam fortunas. A poesia também era marca daquele povo de onde saíra vários escritores que encantaram o mundo e fizeram história. Mas como em qualquer outro lugar, também havia aqueles que não eram amantes do trabalho, mas sonhavam com a riqueza. Então um desses matuto espertalhão que alimentava o sonho de um dia ser rico e dono de várias propriedades, percebendo que o povo almejava um novo modelo de administrar se propôs em governar a cidade, combater a corrupção e fazer grandes investimentos estruturais para dar qualidade de vida a todos os habitantes.

O Prefeito Matuto - (Imagem ilustrativa)
O Prefeito Matuto - (Imagem ilustrativa)

O povo, confiando nas promessas do matuto o elegeu. Uma vez eleito, o prefeito matuto mesmo antes de tomar posse tratou logo de pedir um aumento do seu salário e de seus compadres. Ele acreditava que ganhando aquele salário, que era de quase 30 "merreís", ele iria conseguir tudo o que sonhou e conquistar a sua independência. Mas logo percebeu que mesmo com o alto salário não conseguiria tudo o que queria para si e sua família. Então o prefeito matuto tratou logo nos primeiros meses de aprender todas as artimanhas do poder. Enquanto o povo esperava do matuto o combate a corrupção, ele montava em sua cidade um novo jeito de administrar, denominado "não licitar para ganhar". Enquanto eles ganhavam em tudo, a população só perdia.

O tempo foi passando e as coisas cada dia piores. Um dia uma notícia, outro dia outra e o povo mal acordava e já deparava com novos escândalos. Então o que restava ao povo era torcer para que os dias passassem rápido e o desonesto matuto deixasse o poder.

Desamparadas, as pessoas choravam nas filas do pronto-socorro clamando por atendimento. Então o ganancioso matuto pensou: “Uai sô, se é pronto-socorro e o povo só fica reclamando que o trem num funciona, intonce o que resta é fechar essa joça. Só assim esse povo chorão para de reclamar”. E assim decidiu o matuto, diminuiu a verba do pronto-socorro, interrompeu serviços e inviabilizou o atendimento. Com o povo ele não estava nem ai, o negócio dele era mentir e mentir. "Meu povo, eu inté quero ajudá océis mas nóis num ta recadando direito, essa crise é global uai!". Responsabilizava também seus antecessores e dizia que os outros arrecadaram muito e não fizeram nada.

O matuto se irritava quando diziam que a sua administração era a pior da história e perguntava: “O que tem de ruim? A nossa cidade ta cresceno, há poucos dias foi inaugurado aqui dois supermercado e vamo inté construir um shopping. Tamo ajeitano mais distrito industrial e inté um parque tecnológico. O trem aqui ta é bão demais, só num vê os que num quer”.

Mas o matuto, ao ver que mais de 80% da população reprovava seu governo, ameaçou: "É já que eu coloco minha marmita debaixo do braço, monto no meu jegue e desapareço nesse mundão. E adispois nem adianta reclamar nem pedir pra eu vorta. Eu vô é viver bem, num lugar longe desse bando de abestaiado reclamão! "

Essa era a promessa do matuto que o povo mais desejava ver cumprida.

Geraldo Ribeiro (MG)

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