Coluna

BATALHAS PERDIDAS

Juiz de Fora (MG) - Conforme a idade avança aprendemos a ler as pedras que estão pelo caminho. Ou seja, você não corre sobre as pedras porque pode tropeçar nelas e cair no chão, e a caminhada se tornará árdua.

Conforme a idade avança não existem batalhas perdidas, existem batalhas escolhidas. Nem sempre uma batalha ganha representa um prêmio válido. Escolher as batalhas é um privilégio, escolher as batalhas é desprezar o inimigo que não vale a pena ter.

Maksym Kaharlytskyi / Unsplash

As pedras no caminho são pedras escolhidas para serem contornadas, evitadas ou deslocadas, e assim também são as batalhas. Com o tempo se aprende a ler os sinais que as pedras nos enviam. Muitas são jogadas para pegar incautos, despreparados, ansiosos que gastam suas energias para nada.

A economia das energias tem o efeito de nos dar mais tempo para fazer coisas produtivas. 

As principais batalhas que enfrentamos são as guerras das narrativas (aliás estou repetindo este termo não sei por quê? Acho essa expressão ridícula) quando perdemos nosso tempo convencendo quem não quer ser convencido. O silêncio é a principal arma daqueles que compreendem o significado de uma batalha que será perdida, na derrota ou, simplesmente, na vitória.

Ver as pedras no caminho é antever o passo do adversário, de ler a fisionomia do corpo, do rosto daquele que pensamos enfrentar. Têm adversários que não valem a pena ter, e se os temos é hora de contorná-los, e isso não significa covardia ou antipatia, mas significa a sobrevivência, como na guerra onde todos procuram se defender e defender seu ideal ou sua tranquilidade para viver.

Algumas batalhas valem a pena, não pelo fato de almejar o prêmio, mas pelo simples fato de poder estar nela como testemunha de um século, de uma década, de um dia. 

Batalhas memoráveis guardamos na lembrança, como fotografias de um tempo que não volta mais, e que representam no seu tempo uma esperança de mudar o futuro do mundo ou de nós mesmos.

Pedras nos são lançadas e nas batalhas nos lançamos nelas. Pedras também atiramos e batalhas nos inflamam de uma maneira ou de outra. Ambas nós procuramos evitar e em ambas procuramos nos envolver.

Com o tempo, um simples olhar nos diz que pedras evitar e que batalhas nos envolver. Pedras e batalhas são a mesma coisa. Algumas são grandes e leves, outras pequenas e pesadas. Algumas são inevitáveis, e para cada pedra temos uma batalha e para cada batalha nós somos uma pedra no caminho delas. 

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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