- Athaliba, a Grande Rio, lá de Duque de Caxias, tem o enredo Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós patrocinado em R$ 15.000.000,00. Essa vultosa quantia de “papel bordado” é desembolsada pelo governo do Pará. Será que o marketing do governador Helder Barbalho, em exaltar o estado, no sambódromo, em 2025, está sintonizado com a 30ª Conferência da ONU, no Pará, em novembro do ano que vem?
- É provável, Marineth. O Pará é marcado por crimes bárbaros, atribuídos a latifundiários e grileiros de terra. No histórico de violência no campo, o estado registra a chacina de 21 sem-terra e ferimento de outros 69. O episódio ficou público no mundo como o Massacre de Eldorado dos Carajás, em 17/4/1996. Tem, entre outros crimes, o assassinato da missionária dos EUA Dorothy Stang, morta com seis tiros à queima-roupa, em Anapú, em 12/2/2005. Falta reforma agrária!
- Athaliba, também de triste lembrança são os crimes ocorridos em Serra Pelada, à época da exploração de ouro. A dinheirama do patrocínio à escola vermelha, verde e branca da Baixada Fluminense tá na notícia da jornalista Flávia Cirino, n’O Fuxico. Ela observa que essa parceria do governo do Pará com a Grande Rio estabelece record de maior patrocínio já firmado no mundo do samba. A agremiação, por certo, vai exaltar à natureza e casos burlescos e festivos do estado.
- É evidente, Marineth. Afinal, a “força da grana” só mostrará coisas belas do Pará. Bem, antes de ser destrinchado o enredo de título quilométrico, quero falar da jornalista citada por ocê. Conheci a Flávia quando iniciou no jornalismo, no jornal DC News, editado por Geraldo Borges e Paulo Gomes, em Duque de Caxias. Foi Assessora de Imprensa do Salgueiro e, atualmente, está na Estácio de Sá. Naquela ocasião eu presidia a Associação de Imprensa da Baixada - AIB.
- Ora, ora, Athaliba. Como ocê se infiltrou na Baixada? Vamos, explica essa história, sô!
- Seguinte, Marineth: quando trabalhei no O Globo, o Iran Frejat, integrante da direção da redação, me escalou para “cobrir” a Baixada. O jornal tinha desativado a sucursal de jornalismo em Nova Iguaçu. Ele me designou pra tarefa quando questionei a obrigatoriedade de ter que usar terno, ou seja, paletó e gravata, na redação, no Rio. Daí, por dois anos, até 1980 (despois fui para a TV Globo, onde fiquei até 1987), incursionei por aquela região. Experiência enriquecedora.
- Sim, Athaliba. Mas como ocê conseguiu ficar à frente da AIB?
- Marineth, minhas andanças jornalísticas resultou em contatos com diversos profissionais. E, numa conversa (frequente) com alguns deles em botequins em Duque de Caxias, aventamos a proposta de criação da associação. Como tinha a experiência de ter sido diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro - SJPMRJ - e, ainda, de ser conselheiro da ABI - Associação Brasileira de Imprensa -, organizei todo o processo para dar vida sindical à AIB. Mas, agora, sem mais desvio do assunto principal, fala do enredo da Grande Rio.
- Athaliba, creio que os R$ 15 milhões de patrocínio à Grande Rio faz parte da estratégia de marketing à Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. Estima-se que cerca de 40 mil visitantes estarão na conferência, integrada por delegações de vários países. Para o governador, “o evento da ONU traz uma potência de discussão sobre o meio ambiente, dentro da Amazônia”. Já a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, diz que “é um encontro para a concretização de decisões que sejam adequadas ao que a crise climática exige”.
- Marineth, qual é a equipe responsável pelo enredo da agremiação?
- Athaliba, o enredo é do Gabriel Haddad e Leonardo Bora. Ainda na preparação do desfile deste ano já tinham as pororocas na cabeça. Tiveram a colaboração da Rafa Bqueer, tendo na criação Rafael Gonçalves, Sophia Chueke, Theo Neves e Patryck Thomaz. O tema vai abordar o carimbó, gênero musical do Pará. E terá Dona Onete, de 85 anos - ela é considerada a Rainha do Carimbó - no sambódromo. Suponho que o Pinduca, Rei do Carimbó, também vai desfilar.
- Marineth, o nome dele não é citado nas notícias produzidas pela direção da escola, como ocorre com a Dona Onete. A participação do Pinduca no desfile é imperiosa, pois foi o principal artista que difundiu o carimbó no país. Conhecemo-nos na década 1970, quando eu era assessor de imprensa da gravadora Copacabana, onde gravou vários LPs. Estivemos com a cantora Eliana Pittman, que gravou músicas dele. Nas horas de folga frequentávamos o Beco das Sardinhas, no Centro do Rio, com o produtor musical Talmo Scaranari. As sardinhas eram regadas a chopp.
- Athaliba, então, o Pinduca tem que desfilar. Do contrário a escola vai “sambar”, derrapar!
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