São Paulo - Aproveitando que estávamos, eu e a Sheila, em um hotel a poucos quarteirões da Praça Vladimir Herzog, no centro de São Paulo, fomos conhecer a obra “Alguns Personagens desta História”, primeira obra pública do cartunista Aroeira.
A obra, inaugurada no dia 30 de junho, durante o evento “Todo mundo tem que falar, cantar e comer”, na Praça Memorial Vladimir Herzog, celebrou o aniversário de Vladimir Herzog, que completaria 87 anos em 27 de junho de 2024.
A arte, um grande mosaico de azulejos intitulado “Alguns Personagens desta História”, presta homenagem a figuras emblemáticas que lutaram por justiça em nome de Vladimir Herzog e da democracia.
O cartunista brasileiro Renato Aroeira é um dos principais chargistas do Brasil. Um artista que usa a arte para combater governos corruptos e defender a democracia.
Tendo por base a Lei de Segurança Nacional, em 15 de junho de 2020, Aroeira foi alvo de pedido de investigação protocolado na Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, pela publicação de uma charge que criticava o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A charge, que trazia o título "Crime continuado", mostrava o presidente com um pincel e uma lata de tinta pintando uma suástica em cima de uma cruz vermelha, enquanto falava "Bora invadir outro?", fazendo referência à fala do presidente que pedia para que as pessoas invadissem hospitais durante a pandemia de COVID-19.
Já no dia seguinte, em apoio a Aroeira diversos chargistas, no Brasil e no exterior - inclusive eu - começaram a fazer suas próprias versões derivadas da charge original trazendo o título "Charge continuada" (em referência ao título "Crime continuado" da charge original) e com a utilização da hashtag #SomosTodosAroeira para divulgação nas redes sociais.
Aroeira, a charge e os chargistas do movimento ‘Charge Continuada’ foram laureados com o prêmio especial Vladimir Herzog.
São retratados na obra figuras ligadas diretamente a Vladimir Herzog e à luta por verdade, travada durante a ditadura, como Aldir Blanc, Audálio Dantas, Dom Hélder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Elifas Andreato, Fernando Pacheco Jordão, Heleno Fragoso, Henfil, Lélia Abramo, Milton Coelho da Graça, Perseu Abramo, Rabino Henry Sobel, Reverendo James Wright, Ruth Escobar, Terezinha Zerbini, Fátima Pacheco Jordão, Gunnar Carioba, João Batista de Andrade, João Bosco, João Guilherme Vargas Netto, Juiz João Gomes Martins, Juiz Márcio Moraes, Laerte Coutinho, Marco Antonio Barbosa, Samuel MacDowell e Sergio Bermudes, entre outros.
A Praça Memorial Vladimir Herzog é conhecida por acolher, todo último domingo do mês, o evento “Todo Mundo Tem que Falar e Comer”, uma reunião de música e gastronomia que celebra a vida e o legado de Vlado, ocupando o espaço público com arte e cultura.
Em depoimento ao IVH (Instituto Vladimir Herzog), Aroeira disse: “A ideia foi uma iniciativa do jornalista Sérgio Gomes que afirmava: ‘O espaço não foi pensado para ser uma simples praça; e sim um memorial, um símbolo’.
A ideia era ressaltar a enorme movimentação que foi feita para que aquele crime contra Vladimir Herzog não ficasse impune, mas que não ficasse escondido; uma mentira no papel de verdade. A luta social não é feita pela charge, em nenhum planeta ou mundo. Nada vai se transformar só pela charge ou só pela música, mas a gente sabe o papel que a charge e a música tem, sabe o papel que a música teve na outra ditadura para ajudar a derrubá-lá. Belchior, Chico, Caetano, todos eles empurraram a ditadura ladeira abaixo, e ela caiu.
E a charge tem esse papel: ela ajuda, mas quem faz é gente Principalmente indo em uma manifestação, votando corretamente, participando de um grupo de estudos, entrando no sindicato, entendendo que individualmente a gente não é nada. Então, no final das contas, o papel da arte é auxiliar. A luta é feita por pessoas”.
Já integram o espaço três obras do artista Elifas Andreato: o mosaico “25 de Outubro”, confeccionado por alunos do “Projeto ncora”, reproduzindo a tela original instalada no auditório do Sindicato dos Jornalistas; a escultura em bronze “Vlado Vitorioso”, encomendada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para homenagear os jornalistas Zuenir Ventura, Caco Barcellos, Ricardo Kotscho, José Hamilton Ribeiro e Henfil; e o troféu do Prêmio Vladimir Herzog, entregue a jornalistas todos os anos desde 1978.
Em 27 de junho último, aniversário de nascimento de Herzog, ficou pronta a “Escadaria da Liberdade”, com a adesivagem de trechos do Hino da Proclamação da República na testa dos 17 degraus que levam à praça.
Herzog vive!
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