Coluna

QUAL É A SUA IDADE?

Juiz de Fora (MG) - Para algumas pessoas a pergunta soa como uma ofensa. Um sentimento de perda de identidade que não se encaixa. Explico. Quando alguém muito jovem é diagnosticado com uma idade maior, que para alguns soaria como um elogio, sinal que tem maturidade, e para outros um descalabro etário que beira a ofensa a ponto de dizer: Ora, o que pensa essa gente! E, por outro lado, a sensação de perda quando somos diagnosticados com uma idade diferente, parece que o tempo passou e a gente não viveu.

Existem muitas formas de responder a isso. Com um risinho de indiferença, uma gargalhada, um brilho nos olhos de satisfação, sinal de que estamos cuidando bem do nosso corpo, uma genética abençoada ou uma certa ironia que enxergamos nos olhos do avaliador. Pode ser uma brincadeira, pode ser uma sinceridade ou ambas as coisas. E, é claro, o elogio padrão: Nossa, nem parece a idade! Como você está bem!

Como estar bem seria dúbio, afinal você está bem o quê? Bem satisfeita ou satisfeito, ou bem irritada ou irritado.

As mulheres não ficam velhas ou idosas, elas ficam louras. E os homens? Bem, a cultura valoriza os cabelos grisalhos, uma coisa meio disfarçada entre uma idade e outra, uma espécie de transição. Confesso, para nós, homens, as coisas são bem mais fáceis. Mas, eu também pergunto se as mulheres não são crués com elas mesmas. Sei lá, não sei responder a isso. Mas, essa história de usar cabelos curtos denunciando a chegada da idade nunca me convenceu. Por que assumir isso, adquirindo uma identidade que nunca fez parte da vida?

Foto:Jaddy Liu na Unsplash - 

Bem, a resposta para isso seria dizer que a idade é o tempo que continua, indiferente ao que acontece ao nosso corpo e às roupas que vamos usar. A idade pode ser medida, mas nunca ser tomada ao pé da letra. Como uma pílula de desconforto que demonstramos nos nossos hábitos e nossas roupas.

Poderíamos dizer que temos idade suficiente para não dizer a ninguém e ter juventude o suficiente para curtir o momento presente. A idade se denuncia quando desistimos de coisas que nosso físico não mais suporta, e se renova quando encontramos novas formas de curtir a vida de um modo diferente, que só imaginamos, anteriormente, e passamos a valorizar depois. Quando jovens nos permitimos experimentar coisas, e quando mais velhos nos permitimos continuar experimentando, com o devido discernimento da dose de cada um dos experimentos.

Isso, talvez, defina o que seja a nossa idade. Respeitar o tempo, revoltar-se contra ele. E, sim, vê-lo como inimigo a ser enfrentado. A batalha é dura, ele vai vencer no final. A nossa idade define essa capacidade de luta e rir dele, como o guerreiro que ri do seu algoz e dá a ele a sensação de que não venceu.
 

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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