Coluna

MEDO

Foto: Alexandra Gorn na Unsplash - 

Juiz de Fora (MG) - Medo é o tipo do sentimento que é universal. Diz-se, por isso, não sei se é verdade, que todos sentem medo. De barata a escorpião e de falar em público ou dizer para alguém um simples “quer namorar comigo?”.

E aí temos a diferença entre o corajoso e o covarde, onde o corajoso enfrenta os seus medos e o covarde não. Claro, podemos discutir o que seria o corajoso e o covarde, ou o medroso. O corajoso pode pertencer ao voluntarioso, intempestivo e completamente louco, ou então o covarde pode ser o medroso, o cauteloso ou, simplesmente, um sujeito que tem amor à vida, ou a sua própria vida e que não gosta de entrar em furada.

A discussão sobre o depositário do medo vai longe. Longe como o medo eterno que temos sobre alguma coisa sendo o fruto de um trauma, de uma situação vivida, que não se quer mais reviver.

E se não queremos viver mais a situação que nos causa medo, não é por uma questão de covardia, mas de experiência de vida. O que faz do medroso, quem sabe, um sujeito experiente, tipo um gato escaldado.

No entanto, podemos dizer que aquele que enfrenta o medo e consegue os seus objetivos tem um tipo de liberdade que causa inveja a outros. O corajoso, por exemplo, consegue conhecer pessoas e lugares no mundo, porque tem a coragem de sair da sua zona de conforto e conferir, in loco, o que acontece por aí afora. Não deixa de ser louvável e, por que não, um sujeito que curte a liberdade no seu extremo.

Caberia ao covarde ou medroso não conhecer nada e viver no seu cantinho, procurando não ser visto e nem ser notado, curtindo a sua solidão e sua vida, o que, também, não deixa de ser um curtidor de uma liberdade, de cada qual no seu canto.

É claro que para conhecer as respostas precisamos perguntar, e para conhecer a vida necessitamos experimentar, tocar e sentir aquele fluxo primordial do viver. E viver, intensamente, tem sua particularidade de coragem.

Não seria aquela coragem de bater em todo mundo e virar um espancador notório. Não. Esse tipo de coragem é uma valentia desnecessária, que revela mais o temor de ser atingido do que a coragem, suposta, de enfrentar obstáculos. Nesse ponto, o completamente maluco tem seu ponto de atração.

Mas, em alguns momentos, uma pitada de coragem e de enfrentar a timidez e a vergonha têm seu valor. Afinal, quando olhamos para trás, imaginamos o que perdemos de vida e de conhecimento de outras pessoas, possíveis amores, que não foram adiante porque faltou aquela pequena gota que transbordaria o copo. Os corajosos são felizes, gozam de uma liberdade e, mais ainda, pelas histórias que vão contar no futuro, fruto de aventuras que viveram.

Um aventureiro se torna a pessoa mais interessante em uma conversa, quando conta sua vivência, do que um medroso que conta seus medos e fobias, como se fossem as coisas mais importantes do mundo. Apesar de que o estranho tem um tipo de apelo. E, convenhamos, é preciso ter muita coragem e ausência de vergonha ao confessar as falhas e pecados.

Assim sendo, medo faz parte da natureza humana e, devidamente explorado, pode acarretar grandes ganhos. E sendo perdas, elas ficam na conta da experiência vivida e acumulada que vão possibilitar surtos de coragem no futuro. 

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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