Rio de Janeiro - O futebol costuma ser ingrato com seus ídolos do passado.
No último dia 19 de abril, fez 3 anos da morte do centroavante Índio, centroavante do Flamengo; e, dia 21, 17 anos do falecimento de Telê Santana.
Ninguém lembrou deles.
Dos vivos, ninguém lembra, também. Pensando nisso, me veio à mente outro ídolo do passado: Marco Antônio, lateral da Copa de 70, no México, que no último dia 6 de fevereiro, fez 72 anos.
Ninguém lembrou.
Natural da cidade de Santos-SP, nascido em 6 de fevereiro de 1951, Marco Antônio Feliciano atuou como lateral-esquerdo pela Portuguesa Santista (1966 a 1968), Fluminense (1968 a 1976), Vasco (1976 a 1980), Bangu (1981 a 1983), Botafogo (1983 e 1984) e pela Seleção Brasileira (1970 e 1974).
Em 1969, ainda com 18 anos, e já jogando pelo Fluminense, foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira. Marco Antônio era o lateral esquerdo titular no grupo que foi à Copa do Mundo de 1970, no México. As véspera da estreia na Copa, Marco Antônio se contundiu e foi para a reserva de Everaldo na seleção campeã da Copa de 70. Marco Antônio ainda disputou o Mundial de 74, desta vez o titular foi Marinho Chagas.
Marcar nunca foi o forte de Marco Antônio; “Eu nunca marquei. Nunca corri atrás de ninguém”, dizia. Lateral de estilo ofensivo e extremamente técnico, era, também, um exímio cobrador de faltas. Marcou 225 gols na carreira.
Além do Campeonato Mundial de 70, Marco Antônio conquistou também os estaduais do Rio de Janeiro pelo Fluminense em 69, 71, 73 e 75, e o de 77, pelo Vasco. Foi vencedor de um Campeonato Brasileiro pelo Fluminense e bi-campeão do prêmio ‘Bola de Prata’, da revista Placar, (1975 e 1976).
Em 1981, ele foi contratado por Castor de Andrade para vestir a camisa do Bangu quando estava com 30 anos e no auge da carreira. Em 1983, deixou Moça Bonita para atuar pelo Botafogo. Em 1984, abandonou a carreira dentro dos gramados para negociar atletas (levou Assis, irmão de Ronaldinho Gaúcho, para o Torino).
Eu joguei algumas partidas pela equipe de veterano do Bangu, ao lado de Marco Antônio, Marinho, Mococa, Ado, Rubem Feijão, entre outros. Ele já tinha abandonado a carreira profissional. Aquele “veterano”, reunia ex-jogadores para se divertir e, principalmente, beber.
Marco Antônio assume que a bebida sempre o acompanhou desde os tempos de Vasco, quando bebeu demais, dormiu no carro, chegou atrasado ao treino e quase foi barrado por Orlando Fantoni.
No veterano, na época, o ex-lateral ainda bebia muito. Depois dos jogos, chegava a beber - praticamente sozinho - uma garrafa de conhaque Palhinha. Era um cara engraçado. Ria muito. Gostava de contar piadas e causos da época de jogador profissional. Um dos episódios que gostava de contar - o mais polêmico de sua passagem pelo Bangu - foram os tiros que Castor deu para o alto para fazê-lo treinar. “É verdade. O ‘homem’ pegou a arma e largou o dedo mesmo! Tudo o que eu pedia o ‘homem’ me dava. Nunca me faltou nada, mas ele exigia que todo mundo desse sangue nos treinos e nos jogos”, disse.
E para ilustrar tamanha época de fartura no Bangu, ele lembrou essa história: “Quando cheguei ao clube haviam roubado o meu carro e ele me mandou passar na concessionária dele para pegar um. Acabou que algumas semanas depois acharam o meu carro em Ponta Porã e eu acabei ficando com dois”, disse.
Outra história que ele gostava de contar era a de que logo que chegou ao Fluminense foi disputar seu primeiro FlaxFlu. Muito nervoso, antes do jogo, no vestiário do Maracanã, ele mijou na chuteira para afastar o azar. O tricolor ganhou (3x2) e foi Campeão Carioca. A partir daí, antes dos jogos contra o Flamengo, ele mijava na chuteira.
Marco Antônio só não gostava de falar sobre o empurrão dele no goleiro Ubirajara Motta, do Flamengo, no gol de Lula, na final do Carioca de 71, que o árbitro José Marçal Filho não viu e deu o título ao Fluminense. Ele sempre ria quando tocavam no assunto.
Em dezembro de 2013, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) felizmente leve, não hemorrágico.
Marco Antônio hoje não joga mais, mas deve continuar sendo visto como ídolo, respeitado e idolatrado.
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