Coluna

TRISTEZA

Um suicida chegou ao céu e foi ao encontro de Deus, cheio de perguntas na cabeça. Ao chegar perto Dele sentiu a grande oportunidade de saber o porquê de todas as coisas, inclusive a razão do seu sofrimento, da sua tristeza e o que o levou a dar cabo da própria vida.

Depois de encher o Altíssimo de todas as perguntas possíveis, ouvidas pacientemente, Deus lhe disse.

- Filho, você abandonou a sala de aula, você não terminou sua lição.

Tristeza todos nós sentimos, e por sentir não podemos confortar ninguém, até porque não sabemos lidar com as nossas próprias tristezas. Cada um de nós lida de alguma forma com ela; alguns não a compreendem e se entregam a ela, outros tentam tirar alguma coisa dela, porque ela faz parte da nossa essência.

MULHER CHORANDO
Foto: Anthony Tran en Unsplash - 

Somos seres solitários todo o tempo, mesmo cercado por milhares de pessoas, e milhões disponíveis no mundo virtual, mas somos seres tristes e sentimos tristeza todo o tempo. Portanto, a tristeza precisa que façamos desse limão uma limonada. Porque o limão é difícil de comer, mas a limonada é fácil de beber, embora ácida, embora amarga, como um copo de angústia.

Lidar com a tristeza faz parte do nosso universo mágico. Os poetas originam suas obras da tristeza na máquina do mundo que funciona sem parar. 

A tristeza é uma coisa ruim, sim, claro que é, mas ela é a única forma de mostrar-nos a felicidade, ou, pelo menos, a paz de espírito. A tristeza é o contraditório das nossas vidas, como as derrotas, as frustrações e os desencantos. Ninguém vive um mundo ideal porque ele não seria completo se não existisse o lado contrário de tudo isso. Para compreender a tristeza é necessário viver a ausência dela. 

Tristeza é, antes de tudo, reflexão, o momento em que o corpo e a mente param para repensar o futuro, para rever o passado. Tristeza é nostalgia, tristeza é lembrança e tristeza, por isso, pode ser um momento de alegria vivida, mesmo que não tenhamos o sorriso estampado no rosto.

Portanto, não devemos ficar tristes com nossas tristezas. Sem elas não temos a compreensão do mundo. Tristeza pode ser o momento da retomada, do reviver, porque chegamos, supostamente, ao fundo do poço e é hora de dar o salto, porque dali para a frente só há futuro. E sabemos, com a tristeza, onde está o caminho das pedras.

Claro. Nem tudo são flores e existem tristezas ocasionadas por notícias ruins e o futuro não existe para muitos casos. É possível o conforto? Não faço a menor ideia.

Algumas vezes vemos um animal doméstico, um cão, um gato, qualquer um, no seu final de vida, sofrendo alguma dor. Mas, no instante em que ele sente uma pontinha de vida dentro dele, ele levanta, caminha, balança o rabo e tenta aproveitar ao máximo aquele momento em que o ruim deu uma trégua. Isso é possível conosco? É. É fácil? Não. O que fazer? Tente se vingar da tristeza vivendo ao máximo o momento alegre que ela deixa e nos esquece por algum tempo.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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