Rio de Janeiro - Cada vez que as pesquisas de intenção de voto apontam para a vitória do ex-presidente Lula, nas eleições de 2 de outubro, as primeiras reações do presidente Bolsonaro parecem ser a de questionar as urnas eletrônicas.
O capitão insiste em sua campanha para desqualificar o sistema de votação eletrônica, que no Brasil não foi alvo de uma única denúncia de fraude desde que foi adotado, há mais de duas décadas.
Cansado de falar, inutilmente, para sua ‘claque’, no cercadinho do Alvorada, Bolsonaro nesta segunda-feira (18) lançou o ‘Cercadinho Vip Internacional’, com 50 embaixadores convidados.
Com o evento ‘VIP’ no Palácio do Alvorada, Bolsonaro tenta desviar o foco de problemas reais que afetam seu governo, como inflação, o preço do leite e a alta dos combustíveis; ao mesmo tempo em que reforçou a narrativa que pode ser empregada para questionar o resultado das urnas em caso de derrota para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um dos problemas, naturalmente, foi encontrar 50 embaixadores dispostos a abandonar seus postos e suas agendas importantes para ouvir as fake news e as lamúrias do presidente.
Ficaram de fora da palestra os embaixadores do Uzbequistão, que tinha uma consulta marcada com o seu podólogo; e os embaixadores da Argentina, Chile e Japão, porque são comunistas.
O presidente discutiu o assunto com o secretário de Comunicação André de Sousa Costa, enquanto ele procurava embaixadores que não tivessem nada mais importante em suas agendas, na segunda, pela manhã.
O presidente Jair Bolsonaro foi enfático:
- Convide todos os embaixadores dessa lista aê. Quero provar para eles que a extrema-esquerda está planejando um golpe para me tirar do poder - disse, entregando uma lista ao secretário.
- Presidente, o senhor não vai convidar os embaixadores da Argentina, Chile e Japão? - questionou o secretário, depois de ler os nomes na lista.
- Não quero esses comunistas pisando no meu jardim.
- Presidente, isso vai parecer uma "tática trumpista" para desviar o foco ou mesmo para preparar o terreno para o questionamento das eleições.
- Quando o ministro Luís Roberto Barroso fez uma palestra no exterior sob o título ‘Como se Livrar de um Presidente'”, ninguém reclamou no tocante a isso daê - disse o presidente.
- O título foi dado pelos alunos que participaram da palestra, presidente. Não pelo ministro.
- Tanto faz. Já mandei o meu amigo Deltan Dallagnol preparar um PowerPoint, igual ao do Lula, que é para esclarecer de uma vez por todas isso daê - disse o capitão, ligando o projetor.
- Presidente o amadorismo da apresentação é flagrante - disse o secretário, depois de assistir o vídeo. - Além de personalista, com fotos do senhor em motociatas, andando de jet-sky e comendo farofa pelo país, um dos slides contém um erro gramatical na palavra "briefing". Quem escreveu isso? O Carluxo?
- Isso daê não importa, taokey! A cuestão nisso daê é que eu vou provar que houve fraude nas eleições de 2014 e 2018.
- O senhor tem provas?
- Não.
- O senhor foi eleito em 2014 e 2018?
- Sim.
- Entendi.
- Se nós não tivermos o voto impresso em 2 de outubro, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter um problema pior que os Estados Unidos - ameaçou o presidente.
No encontro no Palácio da Alvorada com dezenas de chefes de missão diplomática em Brasília, o mandatário refez velhas e desmascaradas teorias de conspiração sobre a segurança do sistema, apresentou alegações sobre supostas vulnerabilidades, que as autoridades eleitorais já desmascararam repetidamente, repetiu teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas, desacreditou o sistema eleitoral, fez novas ameaças golpistas e reiterou ataques anteriores contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Isso me faz pensar na reação do capitão, depois da derrota nas urnas:
- Foi golpe!!
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