Vamos fugir? Para ser surpreendido no final das contas, do final das contas, das contas a pagar, das contas a receber, do final do mês que chega rápido, da vida que segue célere para o final inexorável de viver.
Querer fugir é chegar a algum lugar, sair de qualquer outro. Não é morrer, mas descer do ônibus, fora do ponto, do táxi freando em um lugar ao acaso, distante, de uma rua mal iluminada, de uma festa na praça, para assistir a banda animada em um coreto, ou simplesmente desligar da tomada e andar na contramão deste mundão.
Um mundo de sentidos diferentes, coisa de poeta, formato de poesia e de bolo de jiló com abacaxi e coco, de chocolate amargo, e tão doce na boca, gelatina de melancia.
Ah! Nada proibido, nada obrigatório, de muitos obrigados, obrigadas, e a coisa nenhuma se sentir coagido. Onde não haja culpas e os sorrisos francos e o rei colorido, um dia preto, amarelo ou branco, e sempre a postos não para coibir peraltice, mas para ser um pouco criança, e ele a tudo permissivo.
Não haja posses, porque o ter não seria condição para possuir, mas inexistir o acumular, e não existir mais o subjugar, por que eu não sei, lá não poderia a ninguém julgar. Aliás, não existiriam os porquês, até porque as perguntas quando não existem é porque respostas são irrelevantes.
Vamos fugir em desabalada carreira, em busca de uma terra de ninguém, fugir, fugir, fugir, na eterna viagem do procurar o Éden, o Paraíso, ou uma terra de ofertas e promoções sem fim, onde não precisasse comprar, mas recolher e usar. Usar o mundo do nosso jeito, sem os trejeitos das obrigações que nos desobrigam de ser nós mesmos.
Poder parar o mundo e descer, encher a estação, e deixar esse trem continuar seus trilhos rumo ao seu destino, em uma terra onde a chuva não molhe e deitar no chão, ver os pingos caírem e as estrelas cadentes, riscando o céu, sorridentes, debochando da tempestade de cara amarrada.
Não dá para fugir do próprio corpo, mas podemos fugir para dentro dele e construir paraísos na imaginação e, quem sabe, carregado pelos ventos dela, descobrir algum lugar, convidando nosso eu, sem precisar de mãos que nos levem, a se desobrigar de coisas sem sentido, embalançando o rosto dele e dizer: vamos fugir?
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