Coluna

FINAIS FELIZES

Fim, The End, C’est fini, Fin. Ao final dos filmes, romances, novelas, as palavras significam o final de algum enredo que nos entretém por poucos minutos, horas ou meses. Eles estão em relevo quando um casal, finalmente, se encontra, e os apaixonados trocam beijos, afagos, depois de longas batalhas em busca de si mesmos ou de respostas ao final de uma aventura que parecia fadada ao fracasso. Mas, também, quando o personagem vagabundo de Chaplin caminha com seus pés tortos e andar cambaleante rumo ao pôr do sol, quando o cavaleiro solitário enfim define seu destino no último duelo que coloca o homem mau diante do seu infortúnio.

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Foto: Wout Vanacker on Unsplash -  

Finais felizes não acabam em si mesmos. Cinderela e Branca de Neve encontram seus príncipes encantados e o longo beijo não significa que seus problemas acabaram. Para nós, sim, para eles a vida continua e, portanto, finais felizes não terminam como um final, porque a jornada continua.

Pode ser que finais felizes signifiquem que a jornada esteja apenas começando, e que nem sempre o encontro com o par perfeito seja o final perfeito. Mas caminhar em busca de reflexões também pode ser um final feliz para qualquer personagem, ou para cada um de nós.

A solidão, o estar só pode ser o final infeliz para o personagem do mal, mas pode ser o final feliz para aquele que viveu a vida atribulada e, finalmente, encontra a paz que sempre procurou, no encontro com o par perfeito que temos dentro de cada um de nós. Quando se encontra um trabalho que nos rejuvenesce, nos incentive a continuar vivendo, enfim, lá podem estar os finais felizes que desejamos. Finais felizes podem estar quando descobrimos, para o mundo, o segredo que guardamos dentro de nós, que nos encerrou em uma capa de infelicidade, quando jogamos o emprego que sempre detestamos para o alto e vamos em busca dos nossos sonhos.

Finais felizes não significam o fim, mas podem ser o começo de alguma coisa, a descoberta da nossa capacidade de fazer o que sempre desejamos mas, por circunstâncias e por medos deixamos de fazer. Finais felizes é tomar decisões que vão mudar nossas vidas, estudar o que se quer, independente da sua “utilidade”. Finais felizes é olhar no espelho e sorrir porque estamos em paz. Finais felizes é acordar pela manhã e saber que nada teremos que descobrir, resolver, solucionar, a não ser o que possamos fazer de bom naquele dia, para que o dia seguinte seja melhor.

Finais felizes é descobrir a verdade e não estar sempre com a razão, mas pronto a refazer nossos entendimentos do mundo. Finais felizes é descobrir que somos humanos e nada poderá mudar isso, a não ser deixar que o personagem mau dos sentimentos ruins tome conta de nós e deixá-lo ganhar o duelo ao pôr do sol.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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