- Marineth, Duque de Caxias é cidade do deus-nos-acuda, literalmente Território arrasado, sem ordem e sem lei, consequência da nefasta política nacional, onde impera a lei do cão. A nota alarmante na seção policial nos jornais e sites do assassinato do vereador Alexandro Silva Faria, o Sandro do Sindicato, abatido com tiros de fuzil, reativa a trajetória trágica daquele município. Na estatística de homicídios de vereadores por lá, ele figura como o 3º morto em seis meses. No mês de março, o parlamentar Danilo Francisco da Silva, o Danilo do Mercado e o filho Gabriel da Silva foram fuzilados por homens encapuzados. A vaga na Câmara de Vereadores foi preenchida pela suplente Fernanda Costa, filha do narcotraficante Fernandinho Beira-Mar. Em setembro, Joaquim José Quinze Santos, ex-PM e conhecido como vereador Quinzé, foi executado a tiros.
- Athaliba, essa cidade é um caldeirão dos infernos, heim. Cruz-credo!
- Sim, Marineth. Recordo o que me contava o saudoso amigo Mário de Moraes, vencedor do I Prêmio Esso de Jornalismo, autor da memorável reportagem “A tragédia brasileira: os paus-de-arara”. A matéria denúncia, feita com Ubiratan Lemos, foi publicada na revista O Cruzeiro, em 1955. Eles acompanharam, por 11 dias, 104 nordestinos de Salgueiro, cidade pernambucana, em cima da carroceria de caminhão, numa viagem de mais de dois mil quilômetros para o Rio de Janeiro. Cada retirante pagou 500 cruzeiros à época aos “coiotes” na busca do sonho de uma vida melhor, idealizando a volta para o sertão com melhores condições financeiras. No entanto, à larga maioria, como se observa até os dias de hoje, tiveram os sonhos frustrados.
- Imagino Athaliba, as precariedades de viagens nos paus-de-arara, tendo carga principal o sonho de milhares de homens, mulheres e crianças de condições básicas essenciais de vida. Na atual conjuntura se repete a saga de nordestinos procurando tornar realidade seus sonhos no “sul maravilha”. O êxodo nordestino, infelizmente, se traduz na falta de efetivo projeto político no país.
- Tem toda razão, Marineth. O Mário de Moraes estava assessor de imprensa da fábrica da Coca-Cola e o visitei na sede da empresa, em Botafogo, para solicitar patrocínio à realização do I Encontro de Assessoria de Imprensa da Baixada Fluminense. O evento representava um desafio para a Associação de Imprensa da Baixada - AIB -, cuja instituição contribui na criação e conduzi com a finalidade de fomentar discussão de política de comunicação naquela região. Empreendia a experiência obtida como diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro - SJPMRJ - e como conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa - ABI.
- Athaliba, tô sabendo que ocê incursionou pelo movimento sindical.
- Pois é, Marineth. No encontro, o Mario de Moraes me contou que a direção da firma tinha desistido de fabricar Coca-Cola no Município de Duque de Caxias após realização de pesquisa. O resultado indicava total falta de saneamento e de segurança, ineficiência no serviço de telefonia e de outras condições desfavoráveis à instalação da fábrica. Foi aí que rememorou a reportagem “A tragédia brasileira: os paus-de-araras”. Disse-me que os retirantes não tinham como destino final o Rio de Janeiro, forçados a desembarcar na divisa da cidade, ou seja, em Duque de Caxias.
- Mas isso, Athaliba, configura preconceito. Então os nordestinos eram proibidos de entrar no Rio de Janeiro, capital da República, à época? Esse sistema político é realmente muito podre.
- Isso, Marineth. Daí se cunhou a expressão “a Baixada dormitório do Rio de Janeiro”. Os habitantes da região - integrada por 13 municípios, com população de cerca de quatro milhões de pessoas, atualmente - em esmagadora maioria trabalha na cidade do Rio de Janeiro. A localidade reúne Belford Roxo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Guapimirim, Mesquita, Itaguaí, Seropédica, Japeri, Magé, Nilópolis, Paracambi e Queimados.
- Athaliba, alguns dos municípios têm históricos de brutais violências que repercutiram no mundo, como assassinatos atribuídos ao Esquadrão da Morte e ao justiceiro Mão Branca.
- É verdade, Marineth. Foi no período das execuções conferidas ao Esquadrão da Morte que surgiu o Mão Branca, personagem fictício criado por experiente jornalista do jornal Última Hora. O Município de Belford Roxo teve o rótulo de “cidade mais violenta do mundo”, e o primeiro prefeito, Jorge Júlio Costa dos Santos, o Joca, assassinado com 11 tiros, em junho de 1995. Em Caxias, surdamente, se cultua o “mito” de Tenório Cavalcant, o Homem da Capa Preta, dono do jornal Luta Democrática, político que andava com uma metralhadora alemã Maschinengewehr MG42, que chamava de “Lurdinha”. Caxias deve a ele a “honra” de cidade de deus-nos-acuda.
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