Após quase dois anos, as Escolas reabrem pela primeira vez para o retorno parcial de alunas e alunos do 3º ano do Ensino Médio e também para os estudantes do 1º ao 5º ano e do 9º ano do Ensino Fundamental. Em meio a tensão que paira na cabeça de pais, professores e servidores para que as medidas de segurança sejam realmente eficazes na contenção da COVID-19, o entusiasmo em partilhar as descobertas feitas no período da quarentena deixam jovens e crianças extasiados. Como o cochicho está obsoleto, dada a necessidade do distanciamento de no mínimo dois metros entre uma pessoa e outra, as crianças do 5º ano provaram que a criatividade pode ser uma arma eficaz contra as limitações impostas pelo vírus, resgatando uma brincadeira tradicional do século passado: o telefone sem fio. Ele é feito apenas com duas latas e barbantes, as latas ficam interligadas e tornam possível a comunicação verbal à distância. A brincadeira virou uma febre na Escola, e no recreio a galerinha toda se comunicava através dos seus telefones sem fio. Kenya, estava ansiosa para contar para Yara, sua melhor amiga, sobre a viagem de Aysha, sua irmã mais velha para um país chamado Benin, que fica dentro do Continente Africano.
- Yara, eu não tô gostando nada dessa aula de História. Eu gosto muito mais das histórias que a minha irmã me conta do Benin, ela que poderia ser a nossa professora.
- É eu também tô achando muito chata, mas o que foi que a Aysha contou dessa viagem?
- Nossa, contou muitas coisas, muitas coisas, depois eu te mando as fotos pelo whatsapp. É que depois que ela fez um teste de ancestralidade, eu fiquei muito empolgada em saber um pouco mais as histórias dos meus ancestrais, sabe? você sabe em que série a gente vai aprender a origem do nosso nome? E o que o nosso ancestral comia? O que ele fazia pra lutar contra a escravidão?
- A gente podia perguntar pra Prô, né? porque esse negócio de “em que ano foi descoberta a América” “quem descobriu a América” já tá ultrapassado, eu vi em uma série que a América foi invadida e não descoberta, porque quando os portugueses chegaram, os povos originários já moravam aqui.
- Yara!!!! Tive uma ideia. Será que se a gente pedir pra Prô ensinar uma história que se pareça mais com a gente, uma história africana do meu lado, e indígena do seu, do que com aqueles homens que fizeram maldades com nossos antepassados, ela ficaria muito chateada?
- Que ideia boa, Kenya! Eu vou ficar torcendo pra ela aceitar, e você já pensou como seria legal se ela também pudesse trazer um parente nosso pra contar ele mesmo sobre alguns episódios da nossa história? Nossa, aí sim, eu ia começar a gostar de estudar História.
Em tom de conclusão, acreditamos que quando a Cultura e a Tradição do nosso povo tornarem-se parte de nós, a Resistência Cultural será uma arma e um escudo contra os perigos da história única. A nossa história começa na nossa avó, depois em mim e o meu neto é o começo dela de novo.
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