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ADEUS, DEBORAH TRINDADE

Rio de Janeiro - Parece que a morte anda fazendo hora extra, no Rio de Janeiro.

Depois de perdemos, recentemente, o cartunista Ykenga e a cartunista Carol Cospe Fogo, neste final de semana, perdemos outra artista do traço, a também cartunista Deborah Trindade.

Nunca trabalhamos juntos. Mas durante anos a gente se esbarrou na ronda dos bares, exposições e eventos ligados ao humor. Eram encontros vertiginosos, alegres e calorosos.

Nosso primeiro encontro foi, acho, em 2011. Em um evento organizado pelo Guidacci, nos jardins do Palácio do Catete, no bairro de Laranjeiras. Ou antes, não lembro. Foram tantas as vezes que nos encontramos. Ela, sempre acompanhada do filho Matheus Trindade - também artista - distribuía sorrisos e simpatia.

Divulgação | Arquivo pessoal. 

Deborah Álvares Trindade nasceu em São Paulo no dia 7 de janeiro de 1966. Radicada no Rio de Janeiro, era uma das mais atuantes no meio artístico carioca.

A artista começou estudando desenho e pintura no SENAC, com o cartunista Guidacci, em 1989, de quem se tornou amiga e parceira de trabalhos.

Incentivada por Guidacci, foi a primeira mulher a atuar profissionalmente com caricatura ao vivo no Rio de Janeiro. Participou, em 1991 , junto com o mestre do projeto “Amor com Humor se Paga”, da agência Standard, Olgivy & Matters.

Formada em ciências biológicas no Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) em 2006; cursou especialização em ciência, arte e cultura na saúde, na Fundação Oswaldo Cruz e integrou o grupo de pesquisa Linguagens Desenhadas e Educação (UERJ).

Deborah era alegre, comunicativa e amiga de todos, especialmente, dos cartunistas José Roberto Graúna, com quem convivia, diariamente e André Brown, de quem “roubou” uma vaga no concorrido curso de desenho e pintura do cartunista Guidacci.

André Brown, em depoimento sobre a amiga:

“Convivi bastante com a Deborah. A conheci no início da década de 1990. Fui me inscrever no Senac na turma de desenho e pintura do Guidacci em 1991, ela se inscreveu na última vaga da turma e eu sobrei (risos). Depois a reencontrei na exposição de cartunistas em homenagem ao cinquentenário de Chico Buarque no MNBA (1994) sob curadoria do Zé Roberto Graúna. Conversamos bastante e mantivemos contato mais frequente. A partir desse reencontro fizemos caricaturas ao vivo juntos em vários eventos. Quando me falou da sua formação em biologia em 2006, a convidei para participar do grupo de pesquisa Linguagens Desenhadas em Educação na UERJ. Nessa época estava interessada em desenho científico e didático. Fez desenhos para trabalhos acadêmicos e culturais na UERJ”.

Em 2011, junto com os cartunista André Brown, Guidacci e Zé Roberto Graúna, reuniu uma porção de artistas e criou o grupo 'Caricatura Solidária' do qual participaram os cartunistas Adail, André Lemos, Nei Lima, Liliana Ostrovsky, Magon, Jeff Bonfim, Diego Novaes, Adam Rabello e Matheus Grimião.

O grupo realizava eventos filantrópicos e arrecadou donativos para desabrigados da catástrofe que atingiu a Região Serrana do Rio de Janeiro, em 2011. O desastre natural ocorrido na região serrana do Rio de Janeiro, nos dias 11 e 12 de janeiro de 2011, quando fortes chuvas provocaram enchentes e deslizamentos em sete municípios, e deixou mais de 900 mortos, foi considerado a maior catástrofe climática e geotécnica do país.

O grupo esteve na região afetada levando mantimentos com auxílio da Cruz Vermelha Brasileira e da Ação Global da Rede Globo. Além dessa ação, os artistas estiveram em hospitais públicos fazendo campanhas de saúde e doação de sangue, sempre usando a caricatura como atrativo para os doadores, voluntários.

Recentemente, após a pandemia, a Deborah voltou a fazer caricaturas ao vivo, estava bastante atuante nessa área nos eventos juntamente com o amigo caricaturista André Lemos.

A artista faleceu neste domingo, dia 9 de novembro de 2025, de um câncer diagnosticado há duas semanas.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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