Coluna

A GUERRA DAS VACINAS

ILUSTRAÇÃO DE NANI
Arte - Nani. 

Rio - Foi só o governador João Doria anunciar a ButanVac, a primeira vacina 100% nacional no combate a covid-19, para Bolsonaro também anunciar a sua vacina.

A vacina, ainda sem nome, foi anunciada às pressas pelo ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, na tarde desta sexta-feira.

Depois de assistir pela TV o anúncio da vacina do Instituto Butantã, feita pelo João Doria, Bolsonaro, irritado, pegou o telefone e berrou:

- Tragam o astronauta aqui. Agora!

Do outro lado da linha:

- O senhor ligou errado, aqui é da Secretaria Especial de Comunicação do Governo Brasileiro. Não é da Agência da Nasa.

- Quem tá falando? Aqui é o presidente Bolsonaro, seu idiota. Quero falar com o Marcos Ponte, aquele astronauta que eu botei num ministério desse daí.

- Desculpe, presidente, vou chamá-lo agora mesmo.

- Como todos já devem saber, a maioria dessas conversas são reservadas, mas eu consegui ouvir parte dela:

Depois de ser acordado às pressas, o ministro chegou ao Palácio do Planalto, ainda vestindo camiseta e com um boné escrito “I Love Trump”.

Bolsonaro diz para o ministro:

- Marcos, como foi que você deixou o Doria anunciar a vacina dele primeiro que a ‘minha’? Convoque agora mesmo a imprensa e anuncie o lançamento da ‘minha’ vacina, taokey?

- Mas, presidente, a ‘sua’ vacina ainda não está pronta. Os testes até agora só foram feitos com ratos de laboratório e alguns deles morreram.

- Isso daí já é outra “cuestão”. O importante é que a vacina já está nos testes pré-clínicos. 

- Ainda falta pedir autorização à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - disse o astronauta.

-  No tocante a isso daí você inventa alguma coisa. Vocês astronautas são bons nisso. Vocês disseram que a terra é redonda e que foram à lua e todo mundo acreditou. O povo acredita em tudo - disse o presidente.

- Eu pensei que o senhor ia ouvir os governadores e investir no lockdown e na campanha de vacinação com as vacinas já existentes.

- O lockdown não funciona. Isso é ba-le-la. O ministro Onyx Lorenzoni disse que o vírus é transmitido pelos passarinhos, pelos cachorros e pelas pulgas. Como é que eu vou proibir os cachorros de sair às ruas? Querem que eu faça como o Noel e bote os animais presos dentro de uma arca?

- É Noé, presidente. Noel é o bom velhinho. Sabe, aquele vestido de vermelho, com um saco nas costas?

- Que seja! O importante é que a ‘minha’ vacina tem que ser a primeira a chegar à população. Vamos começar uma campanha nacional de divulgação da vacina. Vamos sair na frente do governador de São Paulo. Contrate uma figura conhecida nacionalmente para estrelar a campanha.

- Que tal o Rubinho Barrichello? - perguntou o ministro.

- O presidente torceu a cara e perguntou:

- Qual o nome da vacina?

- Versamune-CoV-2FC

- O Barrichello eu até aceito, mas esse nome não. Tem que ser um nome comercial, popular - disse.

- Que tal, BozoVac? - perguntou o astronauta.

Quase foi demitido.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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