- Marineth, no centenário de nascimento de Antonio Maria, 17/3 de 2021, recordei início da minha atividade no Correio da Manhã, final de 1969. Não o conheci. Ele morrera quatro anos antes, 15/10 de 1964, aos 43 anos, em frente à Boate Le Bistrô, em Copacabana. Contudo, era como se vivo estivesse, lembrado no expediente da redação e, sobretudo, nas rodas noturnas de jornalistas, boêmios, artistas e prostitutas nos botequins do Beco da Fome, na miúda ruela da Avenida Princesa Isabel e Prado Junior, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O local era apelidado de Zona do Agrião, devido a intensa movimentação de frequentadores de boates e inferninhos, com o cardápio eclético e preço módico acompanhado de cerveja gelada. Às vezes, a maratona etílica só terminava ao amanhecer.
- Athaliba, ocê tá falando do compositor Antonio Maria, autor de “Valsa de uma cidade”, em parceria com Ismael Netto? A canção louva o Rio de Janeiro, conhecido como a Cidade Maravilhosa, mas que é degradado por políticos corruptos, narcotraficantes e milicianos.
- Sim, Marineth. Após a extinção do Correio da Manhã fui alocado na redação do jornal Última Hora e, em seguida, no O Globo, publicações por onde ele passou e nas quais ainda se ouvia as suas façanhas. Ele publicou memoráveis crônicas no O Jornal, na coluna “Jornal de Antonio Maria”.
- Qual é a trajetória de vida do cronista, Athaliba?
- Marineth, o Antonio Maria Araújo de Morais nasceu em Pernambuco. O avô, usineiro, era dono do Engenho Cachoeira Lisa. O pai, também usineiro, morreu com ele ainda jovem. Estudou no Colégio Marista, onde ficou amigo de Fernando Lobo - futuro parceiro de algumas músicas - e de Hugo Peixa e Arlindo Gouveia. Interessou-se por Agronomia, exercendo a função de técnico de irrigação de cana-de-açucar na usina da família.
- Athaliba, ele abandonou o negócio familiar.
- Marineth, a família teve as finanças afetas por uma crise. Antonio Maria, em 1938, iniciou carreira na Rádio Clube de Pernambuco e, no Rio, em 1940, trabalhou na Rádio Ipanema. Voltou para Recife um ano depois, indo trabalhar na Rádio Clube do Ceará, em Fortaleza, em 1944. Na capital da Bahia, em 1947, dirigiu as Emissoras Associadas. Na volta ao Rio assumiu a direção artística da Rádio Tupi e começou a publicar crônicas no O Jornal. Foi diretor de programação da recém-fundada TV Tupi, em 1951. Na Rádio Mayrink Veiga atuou com Sérgio Porto, Haroldo Barbosa e Chico Anísio em programas humorísticos.
- Athaliba, ele era muito versátil, dinâmico né? Um verdadeiro tratar na cultura em geral.
- Era talentoso, Marineth. No jornal O Globo, em 1955, assinou a coluna “Mesa na pista”, onde comentava a vida noturna das boates de Copacabana. Na TV Rio, com Ary Barroso, em 1957, apresentou o programa “Antonio Maria e Rio, eu gosto de você”. E na Última Hora, teve a coluna “Romance policial em Copacabana”, a partir de 1959. Com os jornalistas David Nasser e Otto Lara Resende apresentou o programa de entrevistas “Cadeira giratória”, na TV Tupi.
- Antonio Maria não contraiu matrimônio, Athaliba?
- Marineth, o cronista e compositor, em 1944, se casou com Mariinha Gonçalves Ferreira, a irmã do amigo de infância Hugo Peixa.
- Athaliba, quais as músicas compostas por Antonio Maria?
- Marineth, ele compôs “Querer bem” e “Menino grande” - gravada por Nora Ney -, parceria com Fernando Lobo. Teve também como parceiros Vinicius de Morais, Evaldo Gouveia, Moacir Silva, Manezinho Araújo, Paulo Soledade, Zé da Zilda, Pernambuco, João Roberto Kelly e Luís Bonfá, entre outros. Com Ismael Netto, além da “Valsa de uma cidade”, compôs “Carioca”, “Sei perder, a canção da volta” e “Manhã de carnaval” e “Orfeu do carnaval”, que integraram a trilha sonora do filme Orfeu do carnaval.
- Quais os intérpretes que Antonio Maria teve?
- Marineth, o compositor teve músicas gravadas por Frank Sinatra, Nat Kiing Cole, Elizeth Cardoso, Doris Monteiro, Silvia Teles, Ângela Maria, Aracy de Almeida, Emilinha Borba e Dircinha Batista, entre outros. Após sua morte, Antonio Maria mereceu homenagem de Maria Bethânia e Raul Côrtes, em 1980, num espetáculo, com músicas dele. Em 1997, a cantora Marisa Gata Mansa gravou o CD Encontro com Antonio Maria. Isso o torna sempre presente!
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