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A LUTA DEMOCRÁTICA DE TENÓRIO CAVALCANTI

Reprodução. 

Rio - Já escrevi aqui, mais de uma vez, que a ‘Luta Democrática’ foi o jornal onde dei os primeiros passos no jornalismo.

Hoje vou contar um pouco da história do jornal. 

A ‘Luta Democrática’ foi uma ideia do deputado federal Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque. O deputado queria criar um jornal com o objetivo de veicular as idéias da oposição entre as classes menos favorecidas da sociedade, difundir suas idéias e defender seus princípios.

O lançamento dos jornais ‘Luta Democrática’ ‘O Dia’ e ‘Última Hora’, significou o surgimento do grande jornalismo popular de caráter sensacionalista na imprensa brasileira.  Juntos constituíram uma nova etapa na história da imprensa popular. 

Tenório se juntou ao advogado criminal e jornalista Hugo Baldessarini e lançou, na década de 50, na antiga Capital Federal, a ‘Luta Democrática’, matutino de linha popular e sensacionalista. 

A primeira edição da ‘Luta Democrática’ foi às ruas no dia 3 de fevereiro de 1954. Com o slogan “Um jornal que luta por aqueles que não podem lutar”, o novo órgão logo lançou um manifesto de repúdio à corrupção e à imoralidade nos gastos públicos, definindo, assim, os princípios que norteariam sua caminhada.

A primeira redação funcionava em uma pequena sala da Av. Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro. Dalí, saía o jornal que por muitos anos tornou-se a voz do povo. Com estilo próprio e manchetes inusitadas, aquele pequeno e teimoso jornal marcou época e fez escola na imprensa carioca.

Popular e sensacionalista, era o mais disputado nas bancas e o primeiro a chegar aos trens suburbanos e às mãos dos operários. Sua edição com manchetes como: “Violentada pelo morfético”; “O bode virou gente” e “Vão acabar com os maridos enganados”, antes do amanhecer, já eram gritadas nas ruas pelos jornaleiros-mirins. 

O realismo cru de suas matérias sobre crimes deu origem ao comentário bem humorado que o carioca fazia sobre a Luta: “se torcer corre sangue”.

Duramente criticado pela elite por explorar o lado trágico, cômico e grotesco da vida, o jornal era, sem dúvida, uma válvula de escape para a angústia do povo; a verdadeira tribuna dos oprimidos, que, através dele, ria de sua própria miséria. 

A grande virada no jornal, aconteceu com a saída de Baldessarini e a entrada de Santa Cruz Lima. Com Santa Cruz como redator-chefe, o modesto jornal se transformou no jornal de maior circulação do Rio de Janeiro. A ‘Luta Democrática’ superava em tiragem e vendagem os mais tradicionais matutinos da época.

A ‘Luta’ não foi só um diário sensacionalista. Ao longo de sua existência, o jornal sustentou memoráveis  campanhas em defesa dos interesses do povo, defendeu a soberania do Brasil contra o colonialismo cultural e econômico, e a exploração das riquezas de nosso subsolo pelos trustes internacionais, hoje conhecidos como multinacionais.

E assim foi a trajetória da ‘Luta Democrática’, superando as dificuldades, mas sempre ao lado do povo, em seus 25 anos de existência.  

Há jornais que, quando deixam de circular, deixam uma lacuna difícil de preencher. A ‘Luta Democrática’ foi uma delas.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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