Coluna

CAIO FERNANDO ABREU

ilustração feita por Ediel Ribeiro
Arte. Ediel Ribeiro

Rio de Janeiro - “Queria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi”, pedia Caio Fernando Abreu, que, se vivo fosse, teria completado, no último sábado, dia 12 de setembro, 72 anos. 

Mesmo tendo falecido muito jovem - aos 47 anos - Caio Fernando Abreu teve seu pedido atendido por uma legião de leitores.

Caio Fernando Loureiro de Abreu, nasceu em Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do Sul, no dia 12 de setembro de 1948. Aos 15 anos foi morar em Porto Alegre com a família. 

Já na adolescência escrevia textos e, em 1966, publicou seu primeiro conto “O Príncipe e o Sapo”, na revista “Cláudia”. E aos 18 anos escreveu seu primeiro romance “Limite Branco”.

Dono de uma consagrada obra literária  que inclui poemas, contos, crônicas e romances, Caio por meio de uma linguagem simples, coloquial, fluída, transgressora e temas não-convencionais, rompeu com padrões literário.

Caio F. cursou Letras e Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi colega de João Gilberto Noll, antes de abandonar tudo para trabalhar como jornalista em revistas como Manchete, Nova, Veja, além de colaborar com os jornais “Correio do Povo”, “Zero Hora”, “Folha de São Paulo” e “O Estado de São Paulo”.

Perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), em 1968, foi morar no sítio da escritora Hilda Hilst, em Campinas, interior de São Paulo.

Lá, tocava a carreira jornalística junto com a de escritor, sua grande paixão. Seus textos versavam sobre solidão, sexo, amor e morte. Em 1973, adepto da contracultura, viajou pela Europa. Morou em países como Espanha, Holanda, Inglaterra, Suécia e França. 

De volta ao Brasil, Caio publicou uma de suas obras mais emblemática: “Morangos Mofados”. Considerado pela crítica literária sua obra-prima, o livro escrito em 1982, foi aclamado como o melhor livro do ano pela revista “Isto É”.

Em 1983, mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1984, foi agraciado com o “Prêmio Jabuti” nas categorias contos, crônicas e novelas pelo livro “O Triângulo das Águas”. Ganhou, ainda, mais dois “Jabutis”: Em 1989, na mesma categoria, por “Os Dragões não Conhecem o Paraíso”; e, em 1996, por “Ovelhas Negras”. 

As gerações posteriores adotaram Caio F. como conselheiro e transformaram a obra do escritor num abecedário da auto-ajuda.

Algumas frases do “artesão das palavras” Caio Fernando Abreu:

“Meu coração é o mendigo mais faminto da rua mais miserável.”

“Eu não me conheço. E tenho medo de me conhecer. Tenho medo de me esforçar para ver o que há dentro de mim e acabar surpreendendo uma porção de coisas feias, sujas.”

“E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida.”

“Eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha – e tenho – pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.”

“Para manter-me vivo, saio à procura de ilusões.”

“Alguma coisa em mim não consegue desistir, mesmo depois de todos os fracassos.”

“A coisa que uma pessoa mais precisa na vida é gostar das outras pessoas e ser gostada também.”

“Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita.”

“A perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais.”

“Tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância.”

“Confesso que preciso de sorrisos, abraços, chocolates, bons filmes, paciência e coisas desse tipo.”

“Porque o mundo, apesar de redondo, tem muitas esquinas.”

“Eu já quis que o destino me surpreendesse. Quis muito! Hoje eu só espero que ele não me decepcione.”

“Se algumas pessoas se afastarem de você, não fique triste, isso é resposta da oração: "livrai-me de todo mal, amém.”

“A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás.”

“Só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade - voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ou não ter genitália igual, e isso é detalhe. Mas não determina maior ou menor grau de moral ou integridade.”

Declaradamente homossexual, Caio descobriu que estava com o vírus do HIV, em 1994. Faleceu com 47 anos em Porto Alegre, em 25 de fevereiro de 1996. 

Ediel Ribeiro (RJ)

703 Posts

Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

Comentários