Cada idade tem sua magia, suas descobertas e suas desilusões. Não critique seu passado, considerando que você não fez o dever de casa. Quem faz a crítica de si mesmo, obedecendo ao critério temporal, entende, sem saber, que a experiência e a vivência são construções ao longo do tempo, e o amadurecimento é um sentimento crítico do que não fizemos ou fizemos, que considera também a magia, as descobertas e as desilusões das idades.
A pandemia dividiu a sociedade em muitos critérios, dentre os adeptos ou não das normas solicitadas pelo bom senso e os idosos que deverão permanecer em isolamento, dando espaço para os mais jovens tocarem a vida. A pandemia dividiu essa velhice pela idade, e também pela crítica ao sentimento da velhice.
O que é ser velho e o que nos faz sentir velho?
Ser velho é enxergar o mundo dentro de uma perspectiva antiguada, sem magia, sem descobertas e repleta de desilusões. Ser velho é não se conformar que o mundo se renda aos seus anseios e visões de como o mundo deve funcionar. Ao contrário disso, ver o mundo funcionar e interagir com ele, faz com que o nosso barco acompanhe a evolução do mundo, não como aquele que fica gritando impropérios enquanto a caravana passa, mas que segue com a caravana e quer fazer parte da festa.
Para muitos que abraçam a causa da não velhice, que sentem que poderiam fazer todas as coisas e, inclusive, com mais criatividade, e com menos medo, sentem também o próprio corpo não comportar, não suportar fazê-lo. A velhice cria impedimentos físicos e não ser velho é adaptar-se ao mundo, sem a visão de crítico desiludido, mas personagem dele: fazer o que é possível dentro dos limites, mas fazê-lo.
O sentimento de ser velho, o que nos faz sentir velho é perceber que não se respeita o que dizemos, não ser ouvido, e, inclusive, ser o competidor a ser eliminado, muitas vezes, não por ser ultrapassado, mas por dizer as coisas baseadas em experiências e vivências que são menosprezadas não por serem as corretas para as situações, mas por estarem em desacordo com pensamentos rasos e arrogantes.
O velho coberto de magia se afasta do centro das discussões, desiste de contrapor lógicas diante da ignorância, porque a distância impede a contaminação do seu pensamento. O velho mágico quer permanecer no estágio das descobertas, nem que seja descobrir que o discernimento traz a solidão.
O velho coberto de desilusões não se envergonha de repassar notícias, fake news, não ter o senso de ridículo do comportamento adolescente, ainda descobrindo o mundo, a partir de um zero que não lhe é permitido.
Nossas idades têm suas lógicas. Somos alguém até os vinte, alguém até os trinta, alguém até os quarenta e assim por diante. Estar dentro da magia das idades, das descobertas da idade, vai permitir que a idade das desilusões fique cada vez mais para o futuro, até que, com nossa ida, ela fique por aqui, à procura de outros corpos disponíveis.
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