Oito de julho é o Dia do Panificador.
Profissão humilde, raramente é lembrada.
Entretanto, merece exaltação porque é uma profissão nobre.
Existe maior grandeza do que fabricar o pão que alimenta e mata a fome?
Creio que não.
Existem presentemente cerca de um bilhão de pessoas subnutridas no mundo.
A maioria das pessoas que passam fome são mulheres e crianças.
As mortes por fome, segundo dados da ONU, suplantam as mortes por sida, malária e tuberculose somadas.
Insufiência alimentar na infância provoca danos irrecuperáveis para sempre.
Por este motivo a fome é a mais violenta negação dos direitos humanos.
Não tem coerência afirmar que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos, se a expectativa média de vida nos países ricos é, em dobro ou em triplo, a expectativa média de vida em alguns países pobres; se mesmo no seio dos países pobres, a expectativa média de vida dos ricos da população é, em dobro ou em triplo, a expectativa média de vida dos pobres da população.
Aparecem recursos para acabar com doenças transmissíveis que, nos países pobres, ameaçam, pela contaminação, a saúde dos ricos.
Por que não se tomam medidas para acabar com a fome?
Por que a Humanidade terá de transpor um novo milênio carregando, nos ombros, a imoralidade e a antijuridicidade da fome?
Grande Josué de Castro, que merece estátuas modeladas em ouro, em bronze, ou simplesmente em pão, em todos os Horizontes e em todos os Continentes, inclusive na sede da ONU!
Belo profeta brasileiro que denunciou, com pioneirismo, as causas sociais da Fome.
Josué de Castro mostrou a fome como “problema social”.
Graciliano Ramos, nos seus romances, retratou a fome como problema político.
A fome não brota do céu.
A fome tem causas na terra, nas injustiças imperantes.
Josué e Graciliano sofreram exílio e prisão por dizer uma verdade óbvia.
No Brasil contemporãneo, a grande figura profética, na luta contra a fome, foi o sociólogo Herbert de Souza, ou simplesmente o Betinho, como ficou carinhosamente conhecido.
A fome tem pressa, disse Betinho, com extrema racionalidade.
Condenado a morrer, Betinho lutou, até o último momento, pela vida. Mas não tanto pela sua vida.
Lutou muito mais pela vida do povo brasileiro, dos marginalizados e oprimidos, dos que são massacrados pela injustiça brutal que é a fome.
Não poderia haver, na sociedade brasileira contemporânea, figura que pudesse simbolizar melhor esse grito contra a fome.
Betinho estava predestinado para ser o líder da cruzada que empunhou.
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