Nos perguntamos por quanto tempo ainda vamos ter que olhar o mundo pela janela? Mesmo podendo respirar o ar que chega da rua, esse mesmo ar pode trazer coisas que não queremos. Queremos respirar e há um joelho em nosso pescoço que nos sufoca. Há um grito maior dentro de nós que quer espaço para dizer o que sentimos.
Mesmo longe, um pescoço apertado por um joelho estrategicamente calculado, como se fosse apenas uma forma de manter algo perigoso inerte, nos faz sufocar por dentro. Em algum momento, por empatia ou não, um acontecimento tão longe nos faz sentir a falta da respiração.
Você sabe com quem está falando? Compare o que eu ganho com o que você ganha, para saber se você tem força para tentar imaginar que eu estou sob a lei. Eu posso respirar, você não, é o meu joelho que está no seu pescoço! Não faça na minha casa o que você faz na casa de outros mais pobres que você!
Precisamos respirar, não dá mais para sentir joelhos em nossos pescoços dizendo que mantenhamos a calma, apenas pelo simples fato de achar que pode dizer. Não somente nós queremos respirar, mas o mundo.
Que agonia deve ser sentir o chão quente no rosto e não poder se mexer, estar impotente diante de algo que se acha maior. O que faz com que alguns se julguem não poder fazer o outro respirar? Podemos respirar na rua, mesmo que sob raios e ventanias.
Já lemos muito sobre as tempestades perfeitas. É agonizante estar dentro de um momento histórico, e não lendo a história passada e saber o papel que cada um de nós cumpriu, e quem se omitiu.
No país mais poderoso do mundo alguma coisa histórica está acontecendo. Há uma combinação de sofrimentos, tanto pela doença que se espalha e mostra as vísceras de um sistema que atende os mais ricos e abandona os mais pobres, e o sofrimento vivido por uma categoria que sempre foi massacrada: os pretos e os pobres.
Um homem está subjugado e pede para respirar. Guardem essa expressão: Eu não posso respirar. Ela será emblemática no futuro, quando a história for estudada: Did I have a dream?
Como acontecem as grandes mudanças na história? Na história estudamos os grandes eventos começando com um grande evento. E, no entanto, isso não é uma verdade absoluta. Os grandes eventos apenas aguardam o momento da grande respiração. Começam com um gesto bem simples, sufocado por um joelho, e a cadeia vai se espalhando.
É claro, que não podemos ser adivinhos. Mas o cisne negro é um evento oriundo do imprevisível, algo impensado. Os joelhos acreditam sempre estar bem posicionados e, no entanto, essa é a perdição. Os joelhos podem criar cisnes negros.
Tempestades perfeitas são sopros sufocados, são espirros espalhados, espalhando vírus que nos farão fechar as janelas ou abri-las, para respirar melhor.
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