Rio de Janeiro - Já faz muito tempo - acho que uns 20 anos -, visitando o “Baratos da Ribeiro”, um sebo em Copacabana, onde costumava ir, encontrei uma raridade: “¡Ahi están pintados!”, livro de charges do cartunista colombiano Pepón, lançado em 1992.
No simpático sebo da Barata Ribeiro, era comum encontrar “tesouros empoeirados”.
O dono, na época, me disse que, outro dia, encontrou “O Homem Rouco”, livro do escritor Rubem Braga com uma dedicatória para a sua paixão, a atriz Tônia Carrero. Para surpresa do livreiro, a atriz escreveu um longo texto no final do livro, nas páginas em branco. Nele, Tônia narra episódios vividos pelos dois e fala do amor de Braga por ela.
Para o livreiro, foi uma grata surpresa.
Para mim, encontrar o livro do Pepón, também. Confesso, não conhecia o cartunista colombiano. Outra surpresa, foi saber que ele era apaixonado pelo Brasil e que todo ano visitava uma filha e netos que moram em São Paulo.
A partir daí, me interessei pelo trabalho do cartunista cujo humor e senso crítico implacável, fazia rir e refletir.
Payan José María López Prieto, o 'Pepón' nasceu na cidade de Popayán, na Colômbia, em 1939. Estudou na Instituição Educacional Liceo da Universidad del Cauca e na Escola Luís de Camões, em Lisboa, Portugal.
Pepón morou por dois anos em Portugal, onde seu pai era Embaixador. Lá, a ditadura de Salazar foi o que mais o incentivou o jovem José Maria a fazer caricaturas.
Mudou-se para a Espanha, onde estudou design, em Madri. Na Espanha, publicou suas primeiras caricaturas em 'La Codorniz'. Lá, ele ganhou o apelido de Pepón. Os espanhóis chamados José Maria eram chamados de “Pepillo”, mas como ele era um homem grande, eles o chamavam de “Pepón”.
Ainda na capital espanhola, publicou em um jornal de humor chamado “La Quail”: “Eu conheci o diretor em um café, em Madri. Eu disse a ele que estava fazendo uns desenhos e os enviei. Foram os primeiros que publiquei.”, lembra.
Em 1962, ingressou no “El Espectador”. Em 1970, mudou-se para o jornal “El Tiempo” onde publicou suas charges na página editorial e na última página da “Sunday Readings”.
Nesse período, ele conheceu sua esposa, Huguette Soulier, de origem francesa, com quem se casou em 1964 e teve três filhas.
Autor de quatro livros, trabalhou por mais de 50 anos em jornais, revistas e na TV onde, por mais de cinco anos apresentou o desenho “Mini Monkeys” que marcou uma época para uma geração de crianças, graças ao talento do cartunista e o carisma de sua apresentadora, uma jovem sardenta chamada Yaddy González.
Trabalhou ainda no jornais “Cromos Semana”, “Ámbito Jurídico”, ”Semana Magazine” e “El Nuevo Liberal”.
Nos anos 80, seguindo a carreira do pai, foi trabalhar como cônsul na capital de São Paulo, a convite do governador Belisario Betancur, que o nomeou para o serviço diplomático e interrompeu pela primeira vez sua bem sucedida carreira de cartunista,
Na capital paulista, criou o pôster da Bienal de Arte de São Paulo, em 1987.
Em 1991, ele retomou sua atividade no “El Tiempo”, onde ficou por 45 anos. Neste jornal, ele criou o famoso jornal humorístico “El Trompo”.
Em 30 de maio de 2015, Pepón recebeu o título “Honoris Causa”, uma homenagem da “Universidad del Cauca”, por seus 55 anos como cartunista, homenagem que ele descreveu como a maior honra que havia recebido.
“O mais afiado lápis colombiano”, como Pepón era conhecido entre seus pares, morreu de parada cardíaca, em São Paulo, em 22 de maio de 2016, aos 77 anos, cercado por sua família.
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