Hoje, quando vejo dezenas de mulheres cartunistas ocupando as páginas dos jornais, revistas e sites - o que já era sem tempo - me pergunto quantas delas sabem o que devem a Nair de Teffé, Wilder Weber e Patrícia Rehder Galvão, a Pagu; as primeiras mulheres cartunistas a publicarem em jornais no Brasil.
Nair de Teffé (1886-1981), foi a primeira cartunista do Brasil. Sua trajetória como artista mulher foi marcada por dificuldades em se manter num ofício tipicamente masculino e numa sociedade extremamente machista. Para publicar seus primeiros trabalhos precisou usar como assinatura o anagrama Rian – Nair ao contrário.
Nair foi também pintora, cantora, atriz e pianista. Casada com o Marechal Hermes da Fonseca - oitavo presidente do Brasil - era uma mulher culta e avançada para o seu tempo. Refinada, falava seis idiomas.
Nascida em Petrópolis, no Rio de Janeiro; em 1887 foi com a família morar na Europa. Estudou nas melhores escolas do sul da França. No convento de Sainte Ursule descobriu seu talento para o desenho e, em especial, a caricatura, desenhando os rostos, das freiras.
A carreira de Nair foi breve. De 1906 a 1913, publicou em diversos jornais e revistas. Entre eles, “O Binóculo”, “A Careta”, “o Malho”, “Fon-Fon”, “Gazeta de Notícias”, e as francesas “Le Rire” e Fêmina”.
Em 1930, com a morte dos pais, veio morar em Copacabana, na Rua Paissandu. Morou um tempo no Hotel Glória e depois mudou-se para Niterói, onde morreu, no dia do seu aniversário de 95 anos.
Patrícia Rehder Galvão (1910-1962), conhecida como Pagu, foi a primeira mulher a publicar tiras em jornais.
As tiras batizadas de “Malakabeça”, “Fanika” e “Kbelluda”, foram publicadas no jornal “O Homem do Povo”.
Pagu foi escritora, diretora, tradutora, desenhista, cartunista e jornalista. Militante comunista, foi presa por motivações políticas.
Pagu era a terceira de quatro irmãos de uma família de classe alta do interior de São Paulo.
A artista era uma mulher avançada para os padrões da época. Fumava e bebia em público, usava roupas transparentes, cabelos curtos, falava palavrões e mantinha diversos relacionamentos.
Em 1952, com quinze anos, mudou-se para a capital paulista, onde trabalhou como redatora no “Brás Jornal”, assinando uma coluna com o pseudônimo de Patsy. Trabalhou, ainda, no jornal “A Tribuna” e na “Revista de Antropofagia”.
Escreveu o romance “Parque Industrial” (1933), com o pseudônimo de Mara Lobo; “A Famosa Revista” (1945), com o segundo marido, Geraldo Ferraz; os contos policiais “Safra Macabra” (1944), com o pseudônimo King Shelter; e a autobiografia (inédita) “Paixão Pagu”.
O apelido surgiu de um erro do poeta modernista Raul Bopp, ao dedicar a menina que ele imaginava chamar-se Patrícia Goulart, em 1928, o poema “Coco de Pagu”.
Pagu, que já havia se relacionado com homens famosos e anônimos; solteiros e casados, em 1923 casou-se com o escritor Oswald de Andrade.
A artista foi presa e torturada 23 vezes pelas forças da Ditadura de Getúlio Vargas. A primeira vez, em 1931. Na última, ficou cinco anos presa.
Em 1988, a vida de Pagu foi contada no filme “Eternamente Pagu” (1987), no primeiro longa metragem dirigido por Norma Benguell, com Carla Camurati no papel-título, Antônio Fagundes como Oswald de Andrade e Esther Góes, no papel de Tarsila do Amaral.
Em 1960 morreu em Santos, vítima de câncer, em 12 de dezembro de 1962, aos 52 anos.
Wilder Weber (1913-1994), nasceu em Waldau, na Alemanha, em 1931. Chargista, cartunista, ilustradora, artista plástica e jornalista é considerada a primeira-dama do cartum brasileiro.
Em 1933 chegou ao Brasil e começou a trabalhar nos “Diários Associados” como desenhista e chargista.
Wilde com 19 anos já colaborava com importantes publicações européias e ilustrava livros infantis. Trabalhou no jornal “O Estado de São Paulo” por mais de 30 anos.
De 1933 a 1950 colaborou com os jornais “Folha de São Paulo”, as revistas “O Cruzeiro” e “Noite Ilustrada”, entre outros. Em 1950, a convite do jornalista Carlos Lacerda veio para o Rio de Janeiro trabalhar no jornal “Tribuna da Imprensa”.
A cartunista lançou na cidade do Rio o livro: “Brasil em Charges -1950-1985, uma coletânea de 140 charges publicadas em 35 anos de trabalho na imprensa.
Fã de Laerte, Henfil, dos irmãos Paulo e Chico Caruso e de Millôr Fernandes, em especial, “Porque além de cartunista, ainda é jornalista e escritor”, dizia.
Wilde Weber morreu em dezembro de 1994, em São Paulo.
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Trabalho lindo e sensível do amigo Ediel Ribeiro