Coluna

CIÇA E O PATO, NA FOLHA

Outro dia, escrevi aqui, n´O Folha de Minas sobre a cartunista Ciça. Sou fã dela e ela andava sumida.

Esta semana, voltando de Angra dos Reis, onde passei o carnaval, encontrei, espalhados pelo quintal, vários exemplares da Folha de São Paulo

Num deles - de 23 de fevereiro de 2020 -, finalmente, uma boa notícia: “Aos 80 anos a cartunista Ciça volta a publicar suas tiras na “Folha”.

Reprodução/YouTube

O Pato, personagem-título das tiras da paulista Cecília Whitaker Vicente de Azevedo Alves Pinto, ou Ciça, 80, frequentou as páginas do jornal de 1967 a 1995. 

O Pato e outros bichos eram animais críticos e politizados que formavam o universo com a qual a cartunista conseguiu, por quase quatro décadas, driblar a censura.

Ciça nunca desenhou pessoas, preferia patos, galinhas, formigas e outros bichos.  O Pato era o protagonista da tira. Contracenava com o ovo, o sapo, a pomba e o galo. 

Para quem não leu minha crônica n´O Folha de Minas, aqui vai o link https://www.ofolhademinas.com.br/materia/32008/coluna/cica-e-o-pato 

Para quem não leu a matéria da Folha de São Paulo - escrita pelos jornalistas Alexandre Moraes e Thea Severino -, aqui vão alguns trechos. 

Sobre a preferência por desenhar animais:

“Não sei o porquê de serem animais. Quando pequena, meu personagem de quadrinhos preferido era o Pato Donald, talvez disso tenha ficado algo… Dos meus personagens, os prediletos eram as formigas, porque eu podia fazer uma coisa mais política.”

Sobre a Ditadura Militar:

“Sei que eu saía em listas de suspeitos, mas ficou nisso. Acho que meu trabalho era um escape para as pessoas…”

Sobre a mudança do Rio para São Paulo:

“Fui ao jornal O Estado de São Paulo. O Mino Carta me recebeu e disse: ´Olha, a gente não vai comprar. Vou te explicar porquê`. Ele abriu uma gaveta e mostrou: ´Para ter uma tira que faz sucesso, tenho que comprar outras...Essas já estão pagas, não posso comprar mais`. Ele, porém, me deu uma carta de apresentação para ser entregue ao Cláudio Abramo (1923-1987), da Folha. Cláudio gostou e a partir daí comecei a publicar.”

Sobre desenhar e criar três filhos:

“Eu ficava muito assoberbada. A gente não tinha empregada. Morávamos numa casa pequena, mas mesmo assim...Eu li que o Walt Disney tinha uma equipe gigantesca. Tinha um que fazia o cenário, o outro que fazia a letra, outro que coloria...Pensei, ´preciso de uma equipe!`. Onde fui achar uma equipe? Zélio Alves Pinto, meu marido (irmão do cartunista Ziraldo), porque ele também desenhava. Ele era a minha equipe. Eu fazia o texto e o desenho a lápis, e ele, a arte final. Assim trabalhamos juntos por 20 anos, eu e ele.”

Divulgação: as tiras do Pato

Sobre o machismo no meio:

“Havia machismo mas não era uma coisa agressiva, em geral. Tinha umas coisas pontuais. Teve alguns redatores que realmente...E pessoas que diziam que não era eu que fazia as tiras, que era o Zélio. Mas, bem, a gente espera isso.”

Sobre os amigos:

“A casa onde morávamos, na rua Dr. José Manoel, perto da avenida Pacaembu, era frequentada por  gente dos quadrinhos.Todos eles, Angeli, Laerte, Toninho Mendes, iam lá. Sou fã de vários dos meus colegas. De Laerte, 100%. Laerte é cria lá de casa, ia quando começou. Gosto muito dela.”

Sobre o tempo em que ficou sem publicar:

“Quando parei eu já estava num ponto em que as tirinhas se repetiam. Na verdade, as tirinhas três anos depois repetiam o que estava acontecendo. Tenho um pouco de preguiça de voltar a produzir...até agora não me animei.”

Quem sabe, agora, com o convite da Folha…

Seja bem vinda, Ciça!

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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