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CONCEIÇÃO CAHÚ, UMA PIONEIRA

Rio - O cenário das mulheres no cartum brasileiro está mudando. 

Nos anos 60 e 70, o meio era muito machista. No mundo da charge e do cartum nacional, poucas mulheres pontificavam. 

Desde a seminal Nair de Teffé (1886-1981), que teve que mudar seu nome para Rian (Nair ao contrário) para poder publicar em jornais machistas, até o “Pasquim”, o desenho de humor “era coisa de macho”.

No “Pasquim”, no início, às mulheres - “as gostosas” - só apareciam nas entrevistas. A redação era um reduto de homens.

Mas uma mulher salvou o “Pasquim” da “colonização machista”.

Foi a poeta Olga Savary, que era casada com Jaguar e publicava, uma das partes mais democrática e interessantes do semanário. 

“Da turma do “Pasquim”, Jaguar não estava nem aí para mulher. O Ziraldo, até hoje, é aquela coisa machista. Eu já trabalhei algumas vezes com ele, não é fácil”, escreveu a cartunista Ciça.

Com a Olga, vieram as cartunistas Cecília Alves Pinto, a Ciça; Crau França, a Crau da Ilha;  Conceição Cahú, a Cahú e Mariza no  “Pasquim”. Hilde Weber, no “Estado de São Paulo” e  Patrícia Mendonça, na “Crás”.  

Mulheres que emprestaram sua arte na ilustração, quadrinhos, caricatura e charge para o humor e  as questões sociais e políticas. 

Entre elas, uma das mais atuantes foi Maria da Conceição de Souza Cahú, que assinava apenas Cahú.

Conceição Cahú
Conceição Cahú. (Divulgação)

Cahú nasceu em Floresta do Navio, sertão de Pernambuco, em 1951. Em 1960 mudou-se para o Recife onde ingressou no curso de pintura da Escola de Belas Artes. 

Iniciou a carreira desenhando cartilhas para orientação de agricultores. 

Extremamente talentosa, tinha entre seus muitos fãs a cartunista Ciça e o inesquecível Henfil.

No ano de 1975, aos 26 anos, chegou a São Paulo onde, em 1984, participou da direção da AQC. 

A diretoria era composta por quadrinhistas e chargistas como Jal, Laerte, Bira Dantas, Paulo Caruso, Spacca, Maringoni e Gualberto, entre outros.

Gostava de política e futebol, caracteristicas nada comuns para as mulheres da época. Mas Cahú não tinha nada de comum. 

Corintiana fanática, desenhou caricaturas dos jogadores de vários times do Brasil, da Seleção Brasileira e do time da Democracia Corintiana, que lhe valeu o título de Cidadã Corintiana, outorgado pela Câmara Municipal de São Paulo, em 2005.

Admiradora de Prestes, criou cartazes para o movimento comunista, o movimento feminista e a favor de um país socialmente mais justo para com seu povo. 

Suas armas eram os pincéis e o nanquim. 

Seu trabalho na “Gazeta Mercantil” colocou-a em lugar de destaque entre as poucas mulheres chargistas em todo o mundo. 

Seu estilo bico-de-pena, com pontilhamento preciso, era considerado o melhor dentre os ilustradores brasileiros e mundiais.

Trabalhou durante quase 30 anos na “Gazeta Mercantil”. Publicou, ainda, nos jornais “Brasil Mulher”, “O Estado de São Paulo”, “Folha de São Paulo”, “Jornal da Tarde”, “Diário Comércio e Indústria”; nas revistas “Cláudia”, “Playboy”, “Capricho”, “Visão”, “Editora Companhia das Letras” e diversas outras revistas e jornais.

Chargista, cartunista e caricaturista, Cahú ganhou, em 1992, o 21º Salão de Humor de Piracicaba na categoria Quadrinhos com a história “Uma História de Amor” (Homenagem a Carlos Zéfiro).

Criou, também, em parcerias, com o cartunista Xalberto, as histórias “Trombadinhas” e “Um Nasceu para o Outro”.

Faleceu no dia 18 de dezembro de 2006, em Recife, aos 62 anos, vítima de um câncer. 

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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