Toninho Mendes foi para os quadrinhos o que Jaguar foi para o cartum.
Conheci Toninho Mendes, através do seu trabalho à frente da Circo Editorial, editora criada por ele nos anos 80.
Na lendária casa de quadrinhos, fundada em 25 de abril de 1984, ele editou a “Chiclete com Banana”, “Geraldão”, “Los Três Amigos”, “Níquel Náusea” e “Piratas do Tietê”.
Eram publicações que, nos anos 80, chegaram a vender mais de cem mil exemplares.
Toninho começou a publicar as graphic novel quando o nome ainda nem tinha surgido por aqui. Até então, não existiam os quadrinhos underground ou “adultos”. As revistinhas eram chamadas “gibis” por serem, em sua maioria, destinadas ao público infantil.
Antes dele, os quadrinhos brasileiro eram limitados a “Turma da Mônica”, do Maurício de Souza; “O Menino Maluquinho” e o “Pererê”, do Ziraldo; “A turma da Caatinga”, do Henfil e “As Cobras”, do Veríssimo.
Antônio Soares Mendes Neto, conhecido como Toninho Mendes nasceu em Itapeva, São Paulo, em abril de 1954.
Toninho teve os primeiros contatos com a imprensa através dos lendários jornais alternativos “Movimento” e “Versus”.
Na redação do “Versus” - numa pequena casa da rua Capote Valente, no bairro Alto de Pinheiro -, onde ele fazia de tudo, aprendeu o ofício de editar e publicar revistas.
Na Circo, surgiram nomes importantes da história em quadrinhos brasileiras como, Angeli, Laerte, Luiz Gê, Glauco Villas Boas, Fernando Gonsales, Spacca, Fábio Zimbres, Newton Foot e Guto Lacaz entre outros.
As revistas da Circo eram transgressoras. Fugiam dos padrões permitidos pelo regime ditatorial da época. Sexo, drogas, violência, sacanagem, escatologia e escrotidão, tudo misturado com rock psicodélico, experiências sexuais e drogas - muitas drogas - invadiam o mundo e a cabeça de jovens como eu, que corriam para as bancas de jornais para se deliciar com aquele admirável mundo novo.
Com os quadrinhos underground, os jovens da época, passaram a conviver com personagens punks, bêbados, marginais, prostitutas e drogados que viviam em quartos imundos e bares decadentes.
A “Chiclete com Banana”, do Angeli, foi a primeira publicação da Circo. A revista transformaria Rê Bordosa, a junkie balzaquiana, em fenômeno de popularidade. Nela, Angeli nos apresentaria, além da Rê Bordosa, figuras como Bob Cuspe, Meia-oito, Walter Ego, Bibelô, Mara Tara e os Skrotinhos , personagens que pareciam ter saído de algum beco escuro ou esgoto.
Angeli expressava, através desses personagens marginalizados, muito do contexto histórico em que foram criados, tocando em assuntos como contracultura, militância política, liberdade sexual, tribos urbanas, movimento punk, rock and roll, drogas, comportamento feminino e homosexualidade.
Por lá, também sairia a revista “Geraldão”, com os personagens toscos e cheios de pernas e braços do Glauco: Geraldão, o casal Neuras, Dona Marta, Zé do Apocalipse, Doy Jorge, entre outros loucos.
A Circo editou, também, a “Níquel Náusea”, do Fernando Gonsales que já fazia sucesso na “Folha de São Paulo” com seus bichos.
A revista “Piratas do Tietê”, da Laerte, tinha como cenário um navio onde uma horda de piratas malfazejos navegavam pelo Rio Tietê, saqueando suas vítimas. Além deles, um gato branco e uma gata preta, um puxa-saco imortal e outras figuras criadas pela mente inquieta da cartunista.
Outro sucesso da Circo foi, “Los Três Amigos”, publicada pela primeira vez em 1987, na edição número 12 da “Chiclete com Banana”. A história, reunia Laerte, Angeli e Glauco (com participação especial do Adão Iturrusgarai) desenhando uma aventura de western mexicano, saídos da hilária adaptação do filme “Os Três Amigos”, de 1984, dirigido pelo John Landis, que Angeli gostava.
Em seu último trabalho, Toninho editou, junto com o cartunista Orlando Pedroso, o livro “E depois a maluca sou eu!”, da ilustradora Mariza Dias Costa.
Toninho faleceu no dia 18 de janeiro de 2017. Deixou três filhas, de dois casamentos diferentes, e uma herança incalculável para a cultura pop do país.
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