Rio - Luscar e eu temos uma coisa em comum: histórias com personagens da Baixada.
Tanto que ele batizou seu personagem mais famoso de Dr. Baixada.
Capa preta, chapéu e metralhadora, o personagem foi criado inicialmente para a revista “Mad”, da qual saiu para a página de quadrinhos do Caderno B do “Jornal do Brasil”.
O ano era 1980, época do Mão Branca, o esquadrão da morte que atuava na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
Luscar, que inteiro é Luis Carlos dos Santos - homenagem a Luís Carlos Prestes - foi casado com Mariza, uma das mais talentosas ilustradoras da imprensa brasileira.
Se conheceram em 1974, na redação da revista "O Bicho", comandada pelo cartunista Fortuna.
Luscar era muito louco. Mariza, também. Foi amor à primeira vista. Física e intelectualmente ela se parecia com dois ídolos do Luscar: Janis Joplin e João Gilberto, o que aumentou o fascínio do cartunista pela ilustradora.
Luscar tinha uma verdadeira paixão e admiração pela Mariza. Um dia ele me disse: nos separamos em 1980, mas o carinho e respeito nunca acabou. Nem com a morte dela, em março 2019.
Paulista de Salto, Luscar começou a desenhar cedo. Aos 16 anos foi contratado pelo Maurício de Souza que iniciava seu “império” (que hoje tem mais de 1 bilhão de gibis vendidos, 400 personagens e 3 mil produtos licenciados) na sala do apartamento onde morava, na rua Helvétia, em São Paulo.
Publicou seu primeiro cartum em 68, na revista “Cláudia”, editada pelo romancista Inácio de Loyola Brandão. No mesmo ano, iniciou-se profissionalmente no “Almanaque do Biotônico Fontoura”. Depois, vieram as revistas “O Cruzeiro”, “O Bicho”, “Melodias”, “Mad”, “Senhor” e os jornais, “Ùltima Hora”, “A Gazeta”, “Jornal da Tarde” e “Pasquim”, entre outros.
Foi no “A Gazeta” que Luscar foi preso pela polícia da ditadura militar. Marcado como subversivo, comunista e “elemento de alta periculosidade”, depois de tomar uns “cascudos” foi solto e se escondeu, com uma turma da pesada, num “aparelho” em Mogi das Cruzes (SP).
Na década de 70, veio para o Rio de Janeiro, onde conheceu Ziraldo, quando o pai do Menino Maluquinho editava, junto com o jornalista Ruy Castro, a revista “Fairplay”.
Morou 15 anos no Rio. Através do amigo Fortuna conheceu a turma do Pasquim e começou a colaborar com o semanário, onde ficou até o fechamento em 1991. O início, na Cidade Maravilhosa, foi brabo. Para sobreviver, escrevia histórias de terror para a revista “Spektro”, com o pseudônimo de Basílio de Almeida e desenhava em troca de cerveja, comida e, ocasionalmente, um baseado.
Um dia, Ota, editor da “Mad”, apareceu em sua casa e o levou para trabalhar na revista. As coisas começavam a clarear.
A tirinha do Dr. Baixada fez tanto sucesso no JB, que rendeu ao cartunista um livro pela editora Circo, do saudoso Toninho Mendes; uma revista própria pela editora Hamasaki; e foi publicada, também, na revista “X-Nóia”.
Luscar publicou ainda duas revistas de cartuns e HQ pela editora Escala.
O cartunista mora hoje em São Paulo, onde continua produzindo seus cartuns e ilustrações para diversas publicações.
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