Rio - Não é sempre que você esbarra com um cartunista famoso - ainda mais com o Ziraldo - por aí.
Mas naquele sábado, no Restaurante Martinez, no Leme- RJ, ele passou o dia comemorando seus 80 anos com um punhado de cartunistas.
Rolava, ali, o 10º Encontro Anual dos Cartunistas e o pai do Menino Maluquinho estava ali - a convite dos cartunistas Ferreth e Amorim - autografando seus livros e, como bom mineiro, jogando conversa fora.
Entre as conversas que tivemos, falei sobre a primeira vez que nos encontramos.
Estávamos em 1981. Tempos de ditadura no Brasil. Ele e o poeta Carlos Drummond de Andrade, lançavam, em Ipanema, o livro "O Pipoqueiro da Esquina".
O livro era uma seleção das tiradas (chamadas de pipocas) que Carlos Drummond de Andrade escrevia no Jornal do Brasil, ilustradas pelo Ziraldo.
Uma obra marcante, sobretudo, pela apreensão do momento histórico ali retratado.
Eu, na época, um jovem cartunista, começava a publicar meus trabalhos no jornal "Luta Democrática".
Duro. Não tinha dinheiro pra comprar o livro dos meus ídolos.
Fui à noite de autógrafo com um velho e surrado livro do Ziraldo: "A Última do Brasileiro", lançado em 1975, pela Codecri, editora do "Pasquim".
A fila era enorme. Na minha vez, tímido, disse que também era cartunista e entreguei o livro nas mãos do Ziraldo. Ele olhou o livro, me encarou e sorrindo, autografou e me devolveu.
Sentado ao lado dele estava o poeta.
Entreguei o livro. Ele apertou minha mão, desenhou uma autocaricatura (o poeta sempre quis ser um cartunista) e tascou: " Ediel, entro nesse livro de gaiato. Carlos Drummond de Andrade."
Ziraldo ouviu atentamente a história. Sorriu e perguntou: "Você ainda tem esse livro?" Diante da minha afirmativa, concluiu: " Isso vale uma fortuna!"
Na verdade, a maior recompensa para um jovem cartunista, aquela noite, foi conhecer Ziraldo e Drummond.
*Ediel é jornalista e escritor
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