Coluna

UM PAÍS DE CÍNICOS

Rio - Lula é um cínico.

Não sabe quem é o dono do sítio de Atibaia. Não conhece o dono do triplex. Não sabe quem roubou a Petrobras. Nunca viu os donos da Friboi. Nem sabe quem bateu a carteira do Brasil.

Fernando Haddad, foi Ministro da Educação de 2005 a 2012 - nos governos Lula e Dilma Rousseff - mas não sabe porque a educação está falida. Porque estamos ocupando os últimos lugares no ranking da educação no mundo. E, pior, foi pras ruas, em São Paulo, gritar pela reforma na educação.

Dilma Rousseff não sabe o que é pedaladas fiscais. Nunca pedalou. E também não viu nada de errado na compra fraudulenta da refinaria de Pasadena, no Texas.

Mas o cinismo não é privilégio do PT. Ou da esquerda.

O Partido dos Trabalhadores propagou, divulgou e alimentou o cinismo em Brasília e no resto do país.

Mas não é o dono da marca.

O Coaf pilhou na conta de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL/RJ), o “Zero Um”, da prole do capitão, uma movimentação financeira suspeita de R$ 1,2 milhão em um ano. R$ 7 milhões em três anos.

O orgão também encontrou 48 depósitos de R$ 2 mil na conta do próprio Flávio, feita no caixa eletrônico, em dinheiro vivo, pelo assessor de seu gabinete. Depois de uma década dos esquemas gerenciados pelo então auxiliar, “Zero Um” não sabe, não conhece nem nunca viu.

Faltou dizer, como disse Paulo Maluf, quando a polícia encontrou milhões de dólares em suas contas no exterior: isso não é da minha conta.

A exemplo de Lula, “Zero Um” não admite nem assume os próprios erros. É cínico e irresponsável. Alega estar sendo vítima de perseguição da esquerda radical e da imprensa sensacionalista.

No início, “Zero Um” ainda tentou defender o amigo. Mas, como a amizade não é um sentimento tão resistente quanto o cinismo, ele agora diz que o problema é do ex-policial.

O capitão Bolsonaro, tal como o ex-presidente Lula, não viu e não sabe de nada. Não viu o filho enriquecer da noite para o dia. Nem sabe das movimentações atípicas na conta do primogênito.

Não sabe e tem raiva de quem sabe.

Agora, justiça seja feita: o governo Bolsonaro realizou, em poucos meses, uma proeza que o PT levou 12 anos para conseguir - bagunçou completamente o Brasil.

Até agora, todas as crises do governo Bolsonaro - pasmem - foram criadas pelo próprio governo.

O clã Bolsonaro, na verdade, vem ocupando a vaga deixada pelo PT como maior crítico do próprio governo. Porque, com telhado de vidro, o partido do ex-presidente Lula pode, no máximo, acusar o governo Bolsonaro de plágio.

Ainda assim, para a ala mais radical da esquerda - incluindo aí, algumas figuras do Centrão - Bolsonaro deveria renunciar, mesmo que esteja ainda nos 40 minutos do primeiro tempo de seu governo.

Nada demais. Sartre renunciou ao Nobel; Marlon Brando renunciou ao Oscar; Eduardo VIII renunciou ao trono e Ernest Hemingway  renunciou a vida.

É, somos um país de cínicos.

*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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