Coluna

OUVIDOR, 63

São Paulo - No último domingo, 28, eu e a poeta e escritora Sheila Ferreira fomos conhecer a “Ouvidor, 63”, a maior ocupação cultural da América Latina.

Na pequena Rua do Ouvidor, no centro de São Paulo, um prédio multicolorido se destaca na paisagem cinzenta da cidade. A construção, ocupada em 1º de maio de 2014, por cerca de 50 artistas vindos do Rio Grande do Sul, já foi sede da Secretaria da Cultura e hoje abriga artistas em ateliês-residências que promovem atividades artísticas, culturais e educativas.

Em dezembro de 2018, a ocupação foi oficialmente reconhecida como espaço cultural e recebeu o selo de Ponto de Cultura do Estado de São Paulo. O caráter artístico da ocupação Ouvidor 63 atrai artistas até do exterior e já foi objeto de tese de doutorado.

Foto: Sheila Ferreira - 

O prédio de 13 andares na rua do Ouvidor, 63, até então ocioso, foi ocupado por vários coletivos artísticos, que passaram a promover funções artístico sociais no espaço, tais como: acesso à moradia no centro, espaços para criação artística e realização de eventos culturais, tanto por moradores quanto por visitantes, sempre abertos ao público. O propósito do coletivo é oferecer programação sociocultural, possibilitando amplo acesso e participação do público às atividades produzidas ali.

Em 2019, os artistas entraram em negociação com o Estado para a concessão do prédio. Para isso, o coletivo abriu uma associação e em dezembro de 2019 recebeu da prefeitura o CNPJ. A negociação continua em aberto e o coletivo continua ativo na luta pelo reconhecimento do poder público para que a Ouvidor 63 possa desempenhar cada vez mais projetos e atividades artísticas e culturais de maneira acessível, criativa, plural, sustentável, coletiva e compartilhada na cidade de São Paulo.

Há dez anos, completados no último dia 1˚ de maio, o local abriga a ocupação Ouvidor 63. O colorido do edifício, os grafites na fachada e artistas com instrumentos musicais ou utensílios circenses despertam a atenção dos habitantes de uma das maiores metrópoles do mundo que cruzam a pequena rua do centro.

“Somos uma ocupação artística e também de moradia. Temos essa característica de ser uma ocupação artístico-cultural, e a gente usa isto como ferramenta de transformação social”, explica D’julia Gangary, de 42 anos, gaúcho de Porto Alegre, um dos mais antigos moradores da ocupação.

Artista visual, Gangary chegou na Ouvidor 63 convidado para montar o atelier de xilogravura, instalado no quarto andar do prédio. “Muita gente aprendeu xilogravura comigo e hoje trabalha na rua e em feiras. É uma inclusão artística e social mesmo, um trabalho bem bacana.” Atualmente, o atelier é comandado por alguns de seus ex-alunos.

A ocupação tem uma intensa programação de oficinas de arte, laboratórios e shows, tudo sempre gratuito e aberto ao público. “Somos um centro cultural mesmo, mas somos uma ocupação de moradia também. Se ela acabar, muita gente vai ficar na rua.”

Em 2016, moradores da Ouvidor 63 criaram sua própria Bienal de Artes, realizada paralelamente à famosa Bienal de São Paulo. No Ouvidor 63, a arte é política de re-existência. O espaço, próximo ao Vale do Anhangabaú e à Praça Vladimir Herzog, abriga cerca de 100 residentes.

Na Ouvidor 63, todos os residentes são artistas.Hoje, ao todo, cerca de 120 pessoas vindas do Rio de Janeiro, Bahia e de países da América do Sul como Venezuela, Colômbia e Equador, vivem no local.

Tem muita coisa acontecendo por lá.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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